Carlos Ghosn pode estar longe dos holofotes tradicionais, vivendo no Líbano desde sua fuga cinematográfica do Japão em 2019, mas sua presença no mundo automotivo ainda se faz sentir.
O ex-chefão da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi voltou a opinar publicamente sobre o estado da indústria e não poupou críticas à Nissan, empresa que um dia ajudou a salvar e agora vê à beira do colapso.
Para Ghosn, a parceria entre Renault, Nissan e Mitsubishi já não passa de uma lembrança.
Embora a aliança ainda exista no papel, ele a considera morta, especialmente após os recentes acontecimentos no alto escalão da Nissan, como a saída do ex-CEO Makoto Uchida e do presidente do conselho da Renault, Jean-Dominique Senard, do quadro de diretores da empresa japonesa.
Segundo Ghosn, a montadora japonesa está em rota de autodestruição e cada vez mais isolada no mercado global.
A situação da Nissan é de fato preocupante.
A tentativa frustrada de fusão com a Honda neste ano foi apenas mais um episódio da crise. Com prejuízos acumulados, fábricas sendo fechadas, demissões em massa e até rumores de venda da sede no Japão, a montadora tenta desesperadamente se reestruturar.
Para Ghosn, a falência da aliança e a recusa em se abrir para soluções viáveis, como uma união com a Apple ou a taiwanesa Foxconn, revela o despreparo da empresa para enfrentar o novo cenário da indústria automobilística.
Por outro lado, Ghosn enxerga um futuro mais promissor para a Renault, agora livre para buscar novos caminhos. Ele acredita que a montadora francesa deveria firmar uma aliança estratégica com uma gigante chinesa como a Geely, dona da Volvo e da Lotus.
Isso daria à Renault escala global, acesso ao mercado chinês e a capacidade de enfrentar gigantes como a Volkswagen e a Toyota, além de acelerar sua transição para os veículos elétricos.
A possível fusão entre Renault e Geely, inclusive, já é ventilada por analistas europeus. A marca francesa, que no passado tentou se unir à FCA antes da criação da Stellantis, estaria diante de uma nova oportunidade de se reinventar.
Com um pé na Ásia e outro na Europa, e com a expertise da Geely em eletrificação, a Renault poderia voltar ao protagonismo que teve durante a era Ghosn.
A ironia é que, em tempos de grandes transformações na indústria, nomes como Carlos Ghosn – figuras ambiciosas que buscavam construir impérios – estão cada vez mais ausentes.
Sua crítica é clara: a atual geração de executivos não tem a ousadia necessária para promover as fusões e alianças que o momento exige.
Para ele, o novo grande estrategista automotivo pode muito bem surgir da China, com nomes como Li Shufu, fundador da Geely, despontando como os novos arquitetos da indústria global.
Com isso, Ghosn não apenas enterra a aliança que criou, mas também traça o possível caminho para um renascimento da Renault – sem a companhia da Nissan.
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