A euforia em torno da eletrificação automotiva no Canadá levou um duro golpe.
Um ano após anunciar um investimento histórico de 15 bilhões de dólares canadenses (cerca de 11 bilhões de dólares americanos) para criar uma cadeia completa de produção de veículos elétricos no país, a Honda decidiu adiar o projeto por aproximadamente dois anos.
A decisão veio acompanhada de justificativas vagas sobre uma suposta “desaceleração na demanda por EVs”, mas o pano de fundo parece estar muito mais ligado à política internacional do que ao apetite dos consumidores.
O plano, celebrado pelo então primeiro-ministro Justin Trudeau como “o maior investimento automotivo da história do Canadá”, incluía uma fábrica de baterias com capacidade anual de 36 GWh e uma linha de montagem de EVs capaz de produzir até 240 mil veículos por ano a partir de 2028.
Agora, tudo isso está suspenso — sem data certa para recomeçar.
Em uma carta enviada aos acionistas, a Honda se limitou a dizer que está “observando o mercado” antes de tomar qualquer decisão definitiva.
Em coletiva de imprensa, o CEO Toshihiro Mibe foi ainda mais cauteloso, admitindo que será necessário acompanhar os próximos dois anos antes de bater o martelo sobre a retomada do projeto.
No Canadá, a empresa garantiu que não haverá cortes de produção nem demissões, mas nos bastidores, o impacto político é visível.
A volta de Donald Trump à presidência dos EUA — com sua política agressiva de tarifas e barreiras comerciais — complicou o cenário para montadoras globais.
Como resposta, a Honda anunciou que vai transferir parte da produção do CR-V para sua planta em Ohio, nos Estados Unidos, para mitigar os efeitos das novas tarifas impostas pela Casa Branca.
Uma mudança que, além de estratégica, soa como um alerta para o Canadá: mesmo promessas bilionárias podem evaporar diante da instabilidade geopolítica.
Curiosamente, a justificativa da “baixa demanda por EVs” não se sustenta nos números.
Em 2023, os veículos totalmente elétricos representaram 11,4% das vendas de carros no Canadá e 8,1% nos EUA — números que continuam crescendo, ainda que em ritmo mais lento do que o esperado.
A Honda, porém, parece usar essa narrativa como escudo para uma decisão motivada por razões bem mais complexas.
O adiamento da megafábrica expõe uma realidade desconfortável: mesmo quando os números estão a favor da eletrificação, o jogo de bastidores, as tarifas e as disputas políticas continuam definindo o rumo do setor automotivo.
E o Canadá, que esperava se tornar um polo estratégico da transição energética, terá que esperar mais um pouco — e torcer para que esse futuro não seja transferido de vez para o lado de lá da fronteira.
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