Uma tática polêmica e preocupante vem ganhando força no mercado automotivo chinês: concessionárias estão registrando seguros em veículos antes mesmo de vendê-los, tudo para inflar artificialmente os números de vendas.
A prática, que já envolve algumas das maiores marcas do setor, como BYD, Toyota, Volkswagen e GM, tem causado indignação entre consumidores e acendeu alertas na indústria, que vive uma guerra de preços e uma corrida insana por fatias de mercado.
Anteriormente, no dia 21 de julho, já publicamos aqui no Notícias Automotivas sobre as marcas Zeekr e Neta estarem fazendo isso na China.
Segundo levantamento da Reuters com base em 97 queixas de consumidores publicadas em plataformas populares de reclamação na China, diversas montadoras e concessionárias estariam envolvidas nesse esquema, que visa atingir metas mensais de vendas por meio de manipulação de dados.
O truque é simples: o carro ainda está parado na loja, mas já é registrado como vendido e segurado em nome de terceiros, tudo sem conhecimento do comprador final.
As denúncias aparecem em sites como 12365auto.com, China.com e Black Cat, plataformas que exigem identificação e comprovação documental dos relatos.
Em várias delas, consumidores descobriram apenas após a compra que seus veículos já estavam segurados — em muitos casos, com apólices emitidas em nomes que eles nem conheciam. O sentimento comum é de frustração e engano.
Essa manobra resulta nos chamados “carros usados com zero km”, uma distorção criada para dar aparência de sucesso comercial em um mercado saturado e hipercompetitivo.
A prática se intensificou a partir de 2023, quando a guerra de preços entre montadoras chinesas se agravou. Algumas marcas, como a Li Auto, passaram a divulgar rankings semanais de vendas com base em registros de seguros, incentivando ainda mais esse tipo de fraude.
Até mesmo decisões judiciais recentes reforçam a gravidade do problema. Entre março de 2023 e março de 2025, ao menos cinco ações foram abertas por consumidores contra concessionárias por ocultarem seguros registrados antes da venda.
Em três casos, os tribunais deram ganho de causa aos compradores e ordenaram indenizações. Nos outros dois processos, as sentenças ainda não foram divulgadas.
Fabricantes como FAW Hongqi, SAIC, Honda e GM disseram em resposta que não apoiam esse tipo de prática e que qualquer concessionária flagrada será punida. Mas o estrago à credibilidade já foi feito.
Especialistas afirmam que o esquema distorce a leitura real da demanda, impacta o planejamento de produção e alimenta uma competição artificialmente inflada.
Num mercado como o brasileiro, onde transparência e rastreabilidade de vendas também são desafios constantes, esse tipo de tática acende um alerta importante.
Ainda que o problema tenha se originado na China, ele mostra até onde as montadoras podem ir para maquiar resultados em tempos de crise.
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