
As montadoras tradicionais vêm enfrentando um dilema curioso no avanço da eletrificação: como vender carros elétricos sem perder o prestígio construído ao longo de décadas com seus modelos mais icônicos?
A Mercedes, por exemplo, parece ter entendido que lançar uma linha paralela de EVs com visual futurista e nomes inéditos pode ter sido um erro estratégico.
Depois de tentar emplacar a submarca EQ, com modelos de aparência duvidosa e pouco vínculo emocional com a base de clientes da marca, a empresa alemã decidiu retomar o caminho que a consagrou.
O substituto do EQE, segundo documentos internos, terá visual inspirado no tradicional sedã E-Class, com uma carroceria de três volumes marcante e entre-eixos generoso para oferecer status e conforto.
Veja também

A lógica agora é clara: não faz sentido abandonar o prestígio de nomes como E-Class ou S-Class, que carregam décadas de confiança e reconhecimento no mercado.
O fracasso da linha EQ mostra como é arriscado tentar reconstruir uma reputação do zero em um segmento que ainda enfrenta resistência de parte do público.
É o mesmo raciocínio que vem guiando fabricantes como Stellantis, que prefere oferecer modelos como Peugeot 208 e Opel Astra com múltiplas opções de motorização, incluindo versões elétricas.
Nesse formato, o cliente continua comprando o carro que já conhece e confia — apenas escolhendo se quer abastecer com gasolina, eletricidade ou uma combinação dos dois.

A Hyundai, por outro lado, mostra que há exceções: sua submarca Ioniq conseguiu se destacar com identidade própria e design diferenciado, sem necessariamente carregar o peso dos modelos a combustão.
O sucesso da Ioniq talvez esteja ligado ao fato de a Hyundai não ter, historicamente, modelos com reputação tão consolidada quanto um E-Class ou um BMW Série 3.
A Skoda segue pelo mesmo caminho ao manter EVs com nomes inéditos, sem se preocupar em associá-los diretamente a seus modelos tradicionais, como o Octavia.
A Volkswagen, no entanto, parece estar revendo essa estratégia: após lançar a linha ID com nomes novos e design exclusivo, já se especula que o futuro “ID Polo” volte a se chamar apenas Polo.

Há, portanto, um movimento claro de retorno às raízes entre as marcas mais estabelecidas, que percebem que a confiança do consumidor está mais ligada ao nome do carro do que ao tipo de propulsão.
O caso da BMW é emblemático: apesar do i4 ser uma clara variação elétrica do Série 3, o novo modelo da Neue Klasse usará o nome i3, reciclado de um projeto antigo e bem diferente.
Aparentemente, a única regra nesse mercado é que não há regra — cada montadora tenta encontrar o equilíbrio entre inovação e tradição.
No fim das contas, o sucesso de uma submarca de EVs depende menos da tecnologia e mais da percepção do público.
Modelos como o Kia EV9 podem ser batizados com qualquer nome, já que a marca ainda está construindo sua reputação no segmento premium.
Mas quando se trata de um sedã executivo elétrico da Mercedes, o consumidor quer ver um E-Class — com ou sem escapamento.
A lição que fica é simples: EVs não precisam parecer naves espaciais para serem aceitos.
Eles só precisam carregar o nome certo.
📨 Receba um email com as principais Notícias Automotivas do diaReceber emails
📲 Receba as notícias do Notícias Automotivas em tempo real!Entre agora em nossos canais e não perca nenhuma novidade:
Canal do WhatsAppCanal do Telegram
Siga nosso site no Google Notícias










