
A corrida da Uber pela eletrificação de sua frota global desacelerou drasticamente, deixando motoristas no prejuízo e metas ambientais cada vez mais distantes.
Após anos oferecendo incentivos para que motoristas migrassem de carros a combustão para modelos elétricos, a empresa suspendeu os bônus mensais para quem dirige EVs, deixando muitos sem alternativa viável.
Levi Spires, motorista de 51 anos de Syracuse, Nova York, comprou um Tesla após bater seu Prius, impulsionado por um bônus inicial de US$ 2 mil e pagamentos extras que somaram US$ 3.500 em dois anos.
Agora, com o fim dos incentivos e a queda no ganho por hora, ele afirma: “Meu objetivo é sair da Uber.”
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O programa de bonificação era parte do plano ambicioso da Uber de eletrificar sua frota até 2030 na América do Norte e Europa, segundo reportagem da Bloomberg.

Mas a empresa está longe de alcançar esse objetivo: apenas 9% das milhas rodadas por motoristas nesses mercados foram em EVs.
Na contramão das próprias promessas, a Uber recentemente apoiou uma lei promovida por Donald Trump que corta subsídios para energia limpa e deve reduzir a adoção de EVs em cerca de 40% nos EUA.
Mesmo com as metas em risco, a empresa solicitou às autoridades da Califórnia o adiamento das exigências estaduais, que obrigam empresas de transporte por aplicativo a atingir 90% de milhas em EVs até 2030.
“O que vemos é que elas não fariam isso por conta própria”, afirmou Nancy Skinner, ex-senadora da Califórnia e autora da lei.
Além disso, a Uber não cumpriu sua meta de investir US$ 800 milhões para apoiar a transição dos motoristas para veículos elétricos. Até o fim de 2024, foram pagos apenas US$ 539 milhões, e o valor avançou pouco no último ano.

Enquanto isso, a empresa comemora lucros recordes e anunciou a recompra de US$ 20 bilhões em ações.
Motoristas como Chuck, de Delaware, que trocou um Honda velho por um Tesla Model Y incentivado pelos bônus, agora se veem ganhando praticamente o mesmo, sem ajuda alguma para manter o EV. “Agora é só mão única: tudo a favor da Uber”, lamenta.
O novo foco da empresa está em atrair passageiros que prefiram EVs, por meio da plataforma Uber Electric. A lógica é que, ao concentrar essas corridas em motoristas com EVs, eles ganhem mais pela menor ociosidade.
Mas para muitos, isso não é suficiente. Os novos bônus são escassos, limitados a poucos estados e com prazos curtos — como o atual incentivo de US$ 4.000 para a compra de um EV, válido apenas para 2.500 motoristas em quatro regiões dos EUA.
Com o fim do bônus de US$ 1 por corrida, substituído por metas difíceis de atingir, muitos motoristas de meio período foram excluídos do programa.
Na Europa, programas de taxas adicionais pagos pelos passageiros, como em Londres e França, também estão sendo encerrados.
A guinada da Uber não surpreende especialistas como Andrew Salzberg, ex-diretor de políticas de transporte da empresa. Segundo ele, as metas voluntárias só funcionam até o momento em que elas passam a afetar os lucros.
“O que realmente vai mudar esse cenário são políticas públicas fortes e obrigatórias”, diz Salzberg, que hoje atua em uma organização filantrópica voltada ao clima.
Críticos apontam a contradição: enquanto a Uber ajudou a aprovar uma das leis mais poluentes da história, ainda tenta se vender como uma empresa comprometida com o meio ambiente.
“A verdade é que, quando tiveram a chance de lucrar às custas do clima, mostraram quem realmente são”, resume Holly Burke, da Evergreen Action.
O caso da Uber mostra o desafio das grandes empresas em equilibrar lucros e compromissos ambientais — e como, sem pressão regulatória, a balança tende a pesar sempre para o lado do dinheiro.
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