Delorean: tudo sobre o carro “De Volta Para o Futuro”

Um dos carros mais emblemáticos da história, infelizmente não teve sucesso no mercado automotivo, porém, virou uma estrela inesquecível no cinema, que fez milhões de pessoas desejarem ter um exemplar na garagem.

De uma proposta visionária do fundador da empresa que o construiu ao fracasso retumbante pouco tempo depois, o Delorean parecia outro carro de baixa produção fadado ao esquecimento, até que o cientista Emmett Brown, decidiu transformá-lo em um veículo para viajar no tempo…

Com o estrondoso sucesso do filme “De Volta para o Futuro”, o então DMC-12 converteu-se em um carro cult, um dos símbolos da cultura americana dos anos 80.

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Ainda que alcançasse mais de 88 mph, velocidade para viajar no tempo, deixando um rastro de fogo em uma rua escura e deserta dos EUA, o DMC-12 Delorean teve uma vida menos emocionante que o bólido pilotado por Marty McFly.

Feito por apenas dois anos, o Delorean teve cerca de 9 mil unidades produzidas e estima-se que atualmente existam pouco mais de 6,5 mil rodando pelo mundo.

Inovações

Apesar de não parecer, o Delorean não foi um carro americano, mas britânico, sendo precisamente irlandês do norte.

Assim como o RMS Titanic, o DMC-12 também foi construído em Belfast e, em certo sentido, também naufragou.

Desenhado por Giorgetto Giugiaro, no estúdio italiano ItalDesign, o DMC-12 foi uma visão futurista do americano John Delorean, que fundou a Delorean Motor Cars Ltd, para produzir um esportivo único.

Inspirado no Porsche Tapiro, o Delorean foi construído com lataria em aço inoxidável austenítico SS304 com superfície escovada e, assim como a atual Cybertruck da Tesla, foi vendido sem pintura, com exceção de três carros cobertos por ouro de 24 quilates.

Disruptivo para sua época, o DMC-12 tinha um estilo contemporâneo até, mas as portas com abertura em estilo asa-de-gaivota, conferiam ao esportivo um perfil mais avançado.

O mais surpreendente é que o Delorean não tinha uma carroceria propriamente em aço inox, mas era construída em fibra de vidro, coberta então pelo metal citado.

Até mesmo as portas, muito pesadas para a época, tiveram suportes feitos com tecnologia aeroespacial, desenvolvidas pela Grumman, a mesma fabricante de outro ícone do cinema dos anos 80, o F-14 Tomcat do filme Top Gun.

O chassi em duplo Y foi feito em aço, mas a DMC o revestiu com epóxi para conter a corrosão perfurativa e assim manter a estrutura do Delorean.

Com 4,267 m de comprimento, 1,988 m de largura, 1,140 m de altura e 2,413 m de entre eixos, o DMC-12 Delorean pesava 1.233 kg e tinha um motor traseiro, com tração unicamente nas rodas traseiras.

O Delorean, por ser europeu, tinha um motor do continente, o chamado PRV 2.9 ou 2.85 litros, desenvolvido pela joint-venture entre Peugeot, Renault e Volvo.

Esse V6 aspirado e com injeção eletrônica K-Jetronic da Bosch, tinha apenas 132 cavalos e 21 kgfm, porém, foi o suficiente para o Delorean na época, ainda que posteriormente tenham sido feitas preparações.

A transmissão podia ser manual de cinco marchas ou automática com três velocidades, sendo essas as únicas opções, além de pequenas alterações no acabamento.

O DMC-12 foi, ainda que fosse britânico, atender essencialmente o mercado americano, que via em carros esportivos únicos, algo atraente, ainda mais com a imagem do construtor John Delorean, que desafiava a indústria automotiva dos EUA.

Em 1981, a Delorean seria como hoje é a Tesla, com o DMC-12 sendo o carro do momento na mídia, algo que saiu das revistas e foi para as telas, mas antes de realmente brilhar nas telonas de cinema.

Tal como Elon Musk, John Delorean era a estrela por trás da criação, centrando em Nova Iorque a ação de marketing para entregar o DMC-12 aos consumidores ávidos por novidade, mesmo que essa fosse feita na Europa.

Com suspensão independente nas quatro rodas, sendo ela de dupla A na frente e multilink na traseira, tendo ainda direção bem direta, freios robustos com discos nas quatro rodas e rodas de liga leve fundida com aros 14 polegadas na frente e 15 polegadas atrás.

O DMC-12 Delorean tinha baixo coeficiente aerodinâmico e interior bem compacto para duas pessoas, com posto de direção esportiva.

Contudo, o acesso ao carro foi duramente criticado quando os carros chegaram aos consumidores, que entravam nos veículos e não conseguiam sair.

Isso era visto até mesmo na fábrica, onde os funcionários da linha de inspeção tinham que se rastejar para sair dos veículos.

Detalhes

O DMC-12 Delorean era um cupê de duas portas, classificado na época como um carro “sexy”, dada suas formas esguias e elegantes, com frente retangular e afilada com quatro faróis quadrados numa grade preta com diversos frisos pretos.

O logo moderno “DMC” dominava a grelha retangular, que era envolvida por uma máscara de cor cinza sobre a parte frontal, que destoava do resto da carroceria, sem pintura e em aço escovado.

Abaixo, o para-choque retangular era preto e possuía duas enormes lentes de cor laranja para os repetidores, tendo na parte inferior, um enorme spoiler também em cor preta, mas com um filete cinza entre as duas peças.

O capô era longo e liso, sem vincos ou dobras, tendo nas primeiras 500 unidades, uma tampa de acesso ao reservatório de combustível, posicionado na dianteira sob um espaçoso porta-malas de 396 litros.

Contudo, após isso, o Delorean teve o capô sem recortes e com o bocal do tanque de 51 litros sendo acessado com a abertura do mesmo como no antigo Volkswagen Fusca.

Já o para-brisa era reto, enquanto as laterais tinham frisos pretos com luzes de posição obrigatórias nos EUA, assim como base da carroceria com acabamento preto.

Os retrovisores eram pretos e dobráveis e as portas de asas-de-gaivota com janelas grandes, tendo uma abertura menor ao centro com acionamento elétrico.

As maçanetas eram embutidas e nos modelos mais novos, havia uma faixa decorativa preta nas laterais com a sigla DMC.

Nas colunas B, o Delorean tinham saídas de ar junto às vigias laterais grandes, que terminavam em pequenas entradas de ar pretas nas colunas C.

Já as rodas de liga leve fundidas e raiadas eram de aro 14 polegadas na frente e 15 polegadas atrás, com pneus 195/60 R14 na frente e 235/60 R15 atrás.

Na parte traseira, o Delorean tinha uma tampa com defletores pretos e abertos, que funcionavam também como defletores de ar.

Abaixo dela, uma tampa metálica protegia de fato o motor, enquanto a traseira tinha ainda lanternas grandes e quadriculadas, com a placa antiga numa moldura igualmente quadriculada.

O para-choque preto tinha o nome Delorean em baixo-relevo, com saias inferiores de mesma cor e com duas saídas de escape simples.

Por dentro, o interior era apertado, mas com painel baixo e amplo, com instrumentação de fácil leitura, tendo velocímetro, conta-giros, nível de combustível, temperatura da água, voltímetro e manômetro de óleo.

O console central tinha dois difusores de ar compactos e abaixo um rádio AM-FM com toca-fitas, com o ar condicionado com comandos físicos bem definidos.

O túnel tinha alavanca com coifa em couro ou alavanca deslizante no seletor do câmbio automático, além de comandos dos vidros elétricos e travas elétricas.

Nas portas de abertura vertical haviam alças em couro e difusores de ar nos apoios de braço, sendo um detalhe interessante no habitáculo do Delorean.

O teto interno tinha dois abaulamentos sobre os dois assentos, que eram em couro e com ajustes manuais, enquanto atrás, havia uma rede treliçada para levar alguns objetos.

Havia ainda ajustes manuais internos dos retrovisores e no teto, os para-sois dobráveis no teto.

O volante tinha três raios e sem assistência, sendo mecânica, porém, não havia ajustes de coluna de direção.

Já o freio de estacionamento era posicionado estranhamente entre o banco do motorista e a porta, sendo um dos empecilhos para acesso ou saída do carro.

Itens de fábrica

DMC-12 Delorean manual – Motor V6 2.9 e transmissão manual de cinco marchas, carroceria em aço inox escovado, para-choques pretos, rodas de liga leve forjadas aros 14 polegadas na frente e 15 polegadas atrás, pneus 195/60 R14 na frente e 235/60 R15 atrás.

Faróis duplos, luzes de posição, faixas decorativas externas, lanternas duplas, duas saídas de escape, defletores de ar na tampa traseira, retrovisores pretos, maçanetas embutidas, vidros elétricos, travas elétricas, retrovisores com ajustes elétricos, ar quente e direção mecânica.

O ar condicionado, rádio AM-FM com toca-fitas, alto-falantes, bancos em couro, portas com difusores de ar, alças internas, rede interna, freio de estacionamento lateral, spoiler dianteiro, freios a disco nas quatro rodas, suspensão multilink na traseira e limpador do para-brisa com dupla velocidade.

DMC-12 Delorean automático – Itens acima, mais transmissão automática de três marchas com conversor de torque.

Motor 2.9

O motor do Delorean era o PRV 2.9, que tinha 2.849 cm³ e um bloco de alumínio de seis cilindros em V com cabeçotes de alumínio com comandos únicos e duas válvulas por cilindro.

Equipado com injeção eletrônica monoponto, o PRV 2.9 tinha aspiração natural, o V6 de origem da Peugeot, Renault e Volvo, que foi desenvolvido em 1974 e durou até 1998.

No DMC-12 Delorean, o PRV 2.9 tinha taxa de compressão de 8,8:1, entregando 130 cavalos a 5.500 rpm e 22,9 kgfm a 2.750 rpm.

A transmissão manual era de cinco marchas com embreagem de acionamento mecânico ou automática com três marchas e conversor de torque.

O motor PRV teve uma família com cinco motores diferentes, sendo um 2.5 litros inicialmente, passando para um 2.7 litros e o 2.9 litros, que foi usado no Delorean.

A Renault não deu continuidade com um sucessor do PRV, mas a Peugeot fez surgir o V6 ES-L, também vendido aqui, assim como o Volvo Modular em carros que aqui chegaram igualmente.

Caso o DMC-12 Delorean tivesse tido êxito, certamente usaria um V6 3.0 da linha PRV, pois, tinha o mesmo porte do 2.9.

Desempenho e Médias de consumo

O Delorean ia de 0 a 100 km/h em 8,8 segundos no manual e 9,5 segundos no automático, isso em números do fabricante, mas revista especializadas só conseguiram tempos acima de 10 segundos.

Após a produção do DMC-12, alguns proprietários desenvolveram o chamado “Stage 2” que eleva a potência para cerca de 190 cavalos, inclusive com a troca de comando de válvulas.

A eficiência no consumo era uma ambição de John Delorean, com o DMC-12 sendo um carro inovador no emprego de materiais de alta tecnologia, mas fazia 6 km/l na cidade e 9 km/l na estrada.

DELOREAN DMC-12, UM DOS ÚNICOS DO BRASIL!!

Produção

A produção do DMC-12 Delorean foi controversa, tendo sido feita em uma fábrica construída em Belfast, numa época de conflitos sociais e religiosos na Irlanda do Norte.

A planta de produção teve sua linha de montagem liderada por Colin Chapman, num acordo igualmente controverso que gerou um escândalo posteriormente, com repercussões mesmo após a morte do dono da Lotus.

Num projeto, nascido do zero e liderado por John Delorian, a fábrica recebeu milhões de libras esterlinas do governo britânico e chegou a empregar mais de 3 mil pessoas, com a produção se estendendo por cerca de dois anos.

Foram produzidas pouco menos de 9 mil unidades, segundo algumas fontes, com 3.000 carros sendo vendidos a preço em torno de US$ 25.000 e outros 3.000 parados nos pátios das revendas americanas.

Conta-se ainda que outros 3.000 veículos estavam no pátio da empresa quando a mesma faliu, assim como outros 1.000 não haviam sido terminados.

A produção do Delorean se deu entre 1981 e 1983, com várias mudanças feitas na linha e nos veículos, já que se travava de um projeto não executado anteriormente e sujeito a falhas.

O próprio chassi de aço de duplo Y era realmente estranho, parecendo algo de ficção científica, levando a uma montagem complexa e cara.

Além disso, problemas de qualidade obrigaram várias correções e isso minou a reputação do carro, especialmente em seu acesso ao interior complicado para muitos.

No fim, a Delorean Motor Cars faliu e seu espólio foi vendido para pagar os credores, tendo todos os empregados, dos dois lados do conflito irlandês, despedidos.

Recentemente, uma empresa propôs resgatar o nome Delorean e comprou os direitos de uso da marca, mas por ora, apenas um protótipo foi construído.

De Volta para o Futuro

Se o filme De Volta para o Futuro tivesse sido feito em 1985, certamente John Delorean teria aproveitado a oportunidade para promover seu DMC-12 na América do Norte e no mundo, dado o sucesso da franquia.

A história, que utiliza um Delorean modificado com um “capacitor de fluxo” alimentado por plutônio, fala de um cientista quase maluco e um jovem desastrado que viaja no tempo a bordo do esportivo.

Na produção, foram usados seis Delorean’s, sendo que o som do motor foi de um Porsche 928 e no terceiro filme da franquia, as carrocerias tinham chassis de buggy e motor Volkswagen para andar na terra.

O filme fez o então esquecido Delorean brilhar em todo o mundo e valorizar o esportivo, que hoje tem milhares de fãs e kits de personalização baseados no carro do filme.

Fotos

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Autor: Ricardo de Oliveira

Com experiência de 29 anos na área automotiva, há 18 anos trabalha como jornalista no Notícias Automotivas, escreve sobre as mais recentes novidades do setor, frequenta eventos de lançamentos das montadoras e faz testes e avaliações. Suas redes sociais: Instagram, Facebook


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