A Volkswagen fez uma grande aposta nos carros elétricos e a família ID se tornou um investimento de dezenas de bilhões de euros, mas com foco na Europa, EUA e China.

Bom, pelo menos dois deles vieram e o primeiro foi o ID.4, que finalmente conseguimos avaliar.

Sendo ele uma espécie de Tiguan elétrico — ainda que rumores digam que haverá um de fato — Volkswagen ID.4 traz outra realidade sob o emblema popular. Um toque de modernidade, porém, sem preço para o consumidor final.

Mesmo que você queria tê-lo “para sempre” em sua garagem, de modo a torná-lo um vintage desejado daqui a 30 anos (se a bateria durar tudo isso), o ID.4 é oferecido só para usar.

Então, com apenas um plano de assinatura nas mãos, que começa em R$ 6.990 mensais, você já pode sair, por aí, guiando um VW que o povo ainda desconhece.

Com um padrão longe do que conhecemos como Volkswagen por aqui, o ID.4 quer ser o futuro na ponta dos dedos, com muitos atributos e um ar sofisticado, propondo uma atmosfera mais limpa, tanto fora quanto no veículo.

Vale a pena ter um VW que não será seu?

Índice

Parece um conceito

Fica difícil não comparar a proposta visual do ID.4 com o que é ser Volkswagen e nem é preciso a tradução clássica para sabermos que está longe da essência, mas é o que tem para hoje.

Não é feio, pelo contrário, haja visto que suas linhas fluidas e sinuosas passam a mensagem de leveza, ainda que muito falsa. Ele pesa muito!

O olhar aguçado do conjunto ótico full LED IQ.Light e a grade iluminada refletem a busca pela energia da mudança, enquanto o para-choque, com suas linhas expressivas, tão um bom toque esportivo ao SUV elétrico, que parece ao vivo muito maior que nas imagens.

As rodas grandes de aro 21 polegadas ajudam muito nisso.

Assim como o grupo ótico frontal, o traseiro quer mandar uma mensagem e de fato faz isso, com sua iluminação em LED inteligente, com uma sequência quase tridimensional de luzes.

Isso deixa o Volkswagen ID.4 bem mais simpático e chamativo. Com a eletrificação, agora os carros podem se comunicar com os donos e todo mundo pode ver.

Sem o sorriso cativante do velho amigo que deu origem a tudo isso, o ID.4 nos faz recordar de híbridos (não originais) do passado com suas maçanetas embutidas, mas a reação da presença humana junto ao carro inicia as boas-vindas ao futuro que a VW espera.

Dentro, o ambiente é amplo, quase um longe, com assentos em tecido e couro bem distantes dos Volkswagen nacionais, com direito a apoio de braços retráteis e extensor de assento, sendo naturalmente controlados eletricamente na frente e com duas memórias.

A mescla de cinza-escuro e marrom com couro costurado é interessante.

Com apliques prateados e em preto brilhante, o habitáculo é convidativo e o painel só dá um toque de simplicidade nos difusores de ar centrais, talvez para lembrar que reconhece a herança da marca.

O restante é high-tech, com cluster digital de 5,3 polegadas integrado à coluna de direção com comando de marchas ao lado.

O volante de desenho semelhante ao do Nivus, por exemplo, difere por ser essencialmente touch screen. Aliás, o toque de modernidade do título tem a ver justamente com isso.

Tudo (ou quase) é sensível aos dedos, seja os faróis, comandos da direção e multimídia. É até estranho (e necessária atenção) ligar a iluminação, basta um toque no lugar errado que outra função se ativa. Seja no painel ou no teto, os comandos são todos touch.

Outra coisa estranha é o comando dos retrovisores, cujo único botão giratório em todo o carro parece solto (lembra de um aparelho eletrônico), nem sendo ao menos semelhante ao que você encontra em qualquer VW “normal”.

O mesmo vale para os dois comandos dos vidros elétricos na porta do motorista, já que usa um recurso como do Chevrolet Camaro, onde se aciona os traseiros pelas mesmas teclas.

Falando em botões e teclas, existem dois que ficam nos pés… O menor é o “play” e o maior é o “pause”. Se estes pedais fossem de um Volkswagen “raiz”, o “pause” seria da embreagem e o “stop” acionaria o freio. Enfim, não dá para ser perfeito, não é mesmo?

O cluster tem várias funcionalidades ajustáveis, assim como a multimídia de 10 polegadas, onde o ar dual zone com purificador de ar, bem como o monitoramento em 360 graus, modos de condução e gerenciamento de energia, se encontram facilmente.

No console, a praticidade de um arranjo versátil para copos e um carregador indutivo de smartphone ajudam muito. Baixo, esse conjunto reforça no ID.4 a impressão real de uma minivan.

Com boa área envidraçada, o ambiente tem ótimo espaço interno com banco traseiro bipartido e ajustável, com saídas de ar de uma terceira zona de climatização, além do mesmo acabamento da frente.

Um recado para o Jetta, será? Iluminado por um vidro panorâmico, LEDs no acabamento e por luzes de leitura em LED, obviamente touchs, o ID.4 é o que muita gente sonha com um Volkswagen.

No bagageiro, quem gosta de volume tem 543 litros para não botar defeito e ainda há espaço separado para os cabos de recarga. O piso é ajustável e não há estepe, com a tampa sendo elétrica.

Na frente, se você espera mais um porta-malas, esqueça, este Volkswagen não é como os clássicos TL, Brasília ou Variant, que você conhece. A marca poderia ter lembrado disso…

Apertando o play

Uma coisa boa nos carros da Volkswagen é que, tirando os populares 1.0, nas demais motorizações há raramente o que reclamar em desempenho e o ID.4, ainda mais elétrico, não é exceção.

O SUV elétrico alemão responde como deveria ao apertar o “play”.

Com quatro modos de condução (Eco, Comfort, Sport e Individual), o Volkswagen ID.4 Pro — versão completa oferecida aqui — move com desenvoltura seus 4,584 m de comprimento, 1,852 m de largura, 1,612 m de altura e 2,766 m de entre eixos, que deslocam sobre o asfalto nada menos que 2.049 kg. Sim, este VW pesa mais de 2 toneladas!

Isso é culpa da enorme bateria de 77 kWh (82 kWh no total), que fica sob o salão, lhe garantindo autonomia de 370 km no PBEV ou até 503 km (no painel) com 100% de carga. Tendo motor elétrico traseiro de 204 cavalos e 31,5 kgfm, o ID.4 é rápido como deve ser um carro elétrico.

No modo Eco atenua bem sua força, mas não fica morrendo por aí. É ágil e desliza bem pela cidade ou mesmo estrada, graças à potência e torque imediatos.

Ao se exigir mais, nota-se sim que poderia oferecer algo melhor e isso vem no modo Comfort, o mais prazeroso, com respostas pontuais sem ser rude na reação.

Já no modo Sport, é que o ID.4 mostra sua real força e ela impressiona pelo peso do carro, não sentido na direção ou reações do carro. Naturalmente não é um GTI, mas faz jus ao número que sustenta oficialmente, de 8,5 segundos até 100 km/h.

Outros eletrificados por aí tem aceleração teoricamente igual, mas não parecem…

Mesmo só com força atrás, como nos clássicos a ar, o Volkswagen ID.4 não deixa a frente flutuar ou a traseira sair abanando, mas sentimos uma leve vibração intrigante, ao que percebemos também no Mercedes-Benz EQB de tração dianteira (veja a Avaliação NA do Mercedes EQB).

Seria as condições de rodagem aqui, inferiores às de uma Autobahn?

Com direção responsiva e adaptativa, o ID.4 tem um “pause” que poderia ser “stop”, pois os freios poderiam ser mais imediatos, ainda que não deixem a desejar em eficiência.

Certamente a atualização do SUV na Europa deve ter ajustado isso ou quem sabe via OTA (Over The Air).

Já a suspensão tem um bom ajuste, não tão firme quanto de um T-Cross, mas equilibrada o suficiente para encarar boa parte de nossas vias. O curso é adequado, mas as rodas enormes limitam a coisa.

Nas curvas, faz bem, contornando de forma neutra e segura. Tem que ser assim, senão, não seria um VW nesse aspecto.

Ele tem um pouco daquela pegada mais direta de carro alemão, mas não é como um Golf. O porte e volume também não são comparáveis ao Tiguan, mas fica perto do Taos.

Um detalhe interessante, que ajuda nesse comportamento, são os pneus traseiros mais largos, medindo 255/40 R21, enquanto os dianteiros são 235/45 R21.

Sem transmitir medo de alcance, o Volkswagen ID.4 tem boa autonomia e carrega fácil em casa, mesmo não sendo aterrada a tomada (estava com um carregador da Audi, fica a dica se for o contrário).

A regeneração de energia é outra fonte de alívio para não temer uma “pane seca” no meio do caminho.

É claro, no Brasil, com um carro elétrico é necessário navegar como um piloto de avião. Traçar a rota corretamente, verificar os waypoints e criar um ETOPs é fundamental para se evitar os alertas verbalizados não oriundo do carro quando o nível de carga chegar a zero.

Felizmente, não acabará despencando do céu, mas terá de chamar o serviço da VW Sign&Drive para socorrê-lo.

Bem diferente do Golf GTE que testamos há alguns anos, o ID.4 aceitou bem a recarga, mas como tem 77 kWh de capacidade, sem um wallbox, o tempo ade 20% a 80%, mesmo no 220V, passa de um dia para o outro.

Na rua, o carregador rápido é mais prático, mas depende da potência. Com 57% num de 7,4 kW, precisa-se de até 7 horas para se chegar a 100%.

No consumo, o Volkswagen ID.4 tem bom consumo na cidade, fazendo 8,5 km/kWh, enquanto a 80 km/h conseguimos 7,5 km/kWh, 6,7 km/kWh a 100 km/h e 5,6 km/kWh a 120 km/h.

Mais uma vez, apesar dos números, num carro elétrico é a autonomia que vai atrair a atenção do motorista e fazê-lo dar mais “play” ou “pause” em sua tocada. Pelo menos nesse aspecto, o VW ID.4 não decepciona.

Com pacote ADAS, que inclui faróis matriciais inteligentes, controle de cruzeiro adaptativo, assistente de faixa e tudo mais que seja necessário num carro desses, o pacote ainda dispõe do tradicional Park Assist, além de tráfego traseiro e outros recursos.

Está em dia com a tecnologia associada.

Pague para usar

Possivelmente por ser um Volkswagen, o que sempre nos traz a suspeita da “síndrome de Phaeton”, o ID.4 se concentrou em não ter preço (sem trocadilho com o cartão de crédito) para ser um carro de aluguel.

É aquele de assinatura, como um carro de frota dessas locadoras para empresas de serviço. A estratégia foi inovadora aqui no Brasil e já tem no Nissan Leaf, um seguidor.

Os planos começam em R$ 6.990 mensais por um período único de 24 meses com franquia de 1.500 km. Se optar por rodar 2.000 km por mês, o valor sobe para R$ 8.490. Por fim, 2.500 km em 30 dias exige uma mensalidade de R$ 8.890.

Você escolhe as cores azul ou cinza, com ou sem blindagem, mas isso significa muito mais dinheiro. No plano de menor mensalidade, em dois anos você pagará R$ 167.760, o preço de um T-Cross Comfortline com opcionais. No mais caro, o valor chega a R$ 213.360.

Se somente este último valor fosse o preço final do ID.4, certamente a fábrica de São José dos Pinhais teria que lidar com uma linha de montagem a mais e concorrentes, como os chineses da BYD, colocariam as barbas de molho…

Bem, chega de utopia. Numa comparação com plano do Leaf de 24 meses e 2.000 km, o ID.4 se torna bem mais vantajoso numa diferença de R$ 2.949.

Com seguro, manutenção, documentação, impostos e outros benefícios do chamado VW Sign&Drive, o VW ID.4 ainda parece uma boa opção para quem não se apega com carro ou não é um guardador de carros dos outros.

Tem bom visual, espaço interno digno e porta-malas generoso, além de desempenho condizente e autonomia confortável. Vale? Como o carro da família, sim.