Considerações sobre tipos de câmbios (detalhes)

carro com cambio automatico

Para alguns motoristas, chega o dia em que, por diversas causas, ele decide abandonar o pedal da embreagem. Isso pode ocorrer por cansaço, desejo por mais conforto ou qualquer outro motivo.

Para alguns, esse dia nunca chegará, para outros, o pedal da embreagem sempre foi algo dispensável.

Eu me enquadro no terceiro caso, pois sempre preferi carros automáticos aos manuais. Entretanto, com a chegada massiva dos (nem tanto) automatizados, a história de que carro sem o pedal da esquerda é carro de “Dotô” chegou ao fim.

Nos últimos dias, eu venho conversando com uma infinidade de amigos, colegas e até mesmo “entendidos” de carros sobre as vantagens e desvantagens de cada tipo de câmbio. Mas o que me faz diferente dessas pessoas?

Pois eu vos digo: a experiência com os mais diversos carros e tipos de câmbio.

Experiência com carros e câmbios

Primeiramente, foi aquela época de dirigir sem carteira, pegando o carro do pai, quando tive contato desde um Fusca 4 marchas até um Honda Civic. Depois, consegui comprar meu primeiro carro, um Honda Accord 1995 automático.

Na sequência, troquei para um Honda Civic 2004 também automático, me aventurei no campo dos carros manuais com minha Renault Megane Grand Tour 2011, mas bati a perua.

Depois fiquei um tempo com um Jetta automático Tiptronic e, atualmente, tenho um Renault Fluence 2012 com câmbio CVT, enquanto que minha esposa atualmente tem um Fiat Grand Siena Dualogic (carro que eu tenho usado nos últimos dias).

Sem falar nas experiências com carros de amigos e familiares, então caros leitores, acreditem: tenho uma boa experiência com diversos tipos de carros, apesar da pouca idade, já dirigi mais carros que muitos “motoras” com pelo menos o dobro da minha idade.

Pois bem, ultimamente, com a popularização dos automatizados e dos próprios automáticos em si, muitas pessoas simplesmente desconhecem seu funcionamento.

Não falo do funcionamento interno, engrenagens e tudo, mas como simplesmente manusear um carro sem pedal de embreagem, e é isso que eu procuro com esse texto: mostrar os tipos de câmbio, principais funções e vantagens e desvantagens.

Abordarei, então, nesse texto os câmbios automáticos tradicionais com conversor de torque; automáticos continuamente variável (CVT); automatizados (ou semiautomáticos) mono-embreagem e dupla-embreagem e manual com embreagem automatizada, que são diferentes dos automatizados.

Começarei com a automatização do pedal de embreagem. Normalmente é um tipo de adaptação utilizada por alguns cadeirantes ou pessoas com dificuldades motoras em alguma das pernas, muito embora houve, há muito tempo, carros produzidos em série com esse tipo de automação.

Neste caso, o funcionamento é igual a de um câmbio manual, porém, sem pedal de embreagem, seu acionamento é feito por sensores ou botões na manopla do câmbio.

Minha experiência com eles se resume a um Gol adaptado. O funcionamento geral é bem simples, você acelera quando chegar no ponto de troca de marcha, solta o acelerador aperta um botão na manopla e muda de marcha, volta a acelerar.

Não preciso dizer que não recomendo essa adaptação certo? Se você quer se livrar do pedal de embreagem, esse não é o melhor método, não há creeping como um automático de verdade e ainda é trabalhoso ficar apertando botão pra trocar de marcha, embora haja modelos mais tecnológicos que um sensor ativa a embreagem.

Houve dois modelos conhecidos com esse tipo de embreagem: o Palio Citymatic e o Mercedes Classe A semi-automático AKS. Não é difícil ver por que não vingaram, mesmo o sistema não sendo caro, coisaa de R$ 800 no Palio. Ambos os modelos se tornaram bombas, fuja deles.

Temos o automático comum, com caixa conversor de torque, o engate das marchas e feito de escolha automática, sobrando a função de acelerar e freiar. Uma caixa desse tipo normalmente tem as seguintes posições para a manopla:

  • D (Drive) – essa posição escolhe as marchas a frente do carro, utiliza-se para que o carro ande para a frente;
  • N (Neutral) – é o ponto neutro, o carro fica solto nessa posição, normalmente é um intermediário entre o D e o R;
  • R (Reverse) – marcha a ré, dispensa maiores explicações;
  • P (Parking) – esse modo normalmente é utilizado quando estacionamos o carro, o câmbio fica travado, não permitindo movimento das rodas, auxiliando o freio de mão;
  • D3, 2, 1, L – usualmente, o 1 ou L é uma marcha de força, a mais curta possível, utiliza-se em atolamentos ou terrenos acidentados por exemplo. 2 e 3 (ou D3) limitam o carro àquela marcha. Por exemplo, um carro subindo uma serra, dependendo do câmbio e da velocidade, o sistema engrena terceira e quarta alternadamente, prejudicando o desempenho, aciona-se o 3 então, e bloqueia-se o acionamento da quarta marcha, subindo a serra tranquilamente, idem para o 2;
  • Tiptronic ou sequencial – com o advento dos câmbios com muitas marchas, caiu-se em desuso as posições 3 e 2, primeiro pelos câmbios modernos saberem escolher melhor as marchas e também pela possibilidade de se trocar as marchas de forma sequencial, normalmente nas posições + e -. Isso acontece de forma sequencial e permite a escolha de marcha de forma melhor que múltiplas posições;
  • S (sport) – o câmbio efetua as trocas de marcha em giro maior, dando maior sensação de esportividade.

Um câmbio desse tipo é o automático padrão. A principal vantagem é o conforto que ele proporciona de não ficarmos trocando marchas ou pisando na embreagem.

As desvantagens de um câmbio automático são o maior custo comparado ao manual (veja aqui comparativo entre 15 populares com câmbio automático), maior custo de manutenção, maior consumo e perda de potência. Normalmente, um carro potente (alta cilindrada) não se percebe as percas de potência.

Podem ocorrer trancos nas trocas de marcha mesmo num câmbio automático, sempre depende da tecnologia do câmbio e do motorista. Só a título de informação, com meu ex-Honda Accord eu tinha menos trancos que com o CRV do meu pai. Enquanto isso, ele não se dava muito bem com o câmbio do Accord.

Temos também o CVT que, diferentemente do automático convencional, não possui engrenagens mas, sim, um sistema de polias, havendo apenas uma marcha a frente e o câmbio escolhe qual relação melhor se enquadra naquela situação.

Dessa forma, ele mantém rotação baixa quando em velocidade constante, aumentando de forma linear e mantendo na faixa ideal de torque quando necessário.

É disparado um dos tipos mais confortáveis de câmbio que existem, mas também dá certa gastura acelerar, ver a velocidade subindo e o giro se mantendo num ponto aproximadamente constante.

Há modo Tiptronic em alguns CVT, como é o caso do Renault Fluence (6 marchas) ou do atual Audi A4 (8 marchas). Na realidade, são pontos determinados entre a relação mínima e máxima que o câmbio possui, são marchas virtuais, seu numero é apenas uma escolha da própria montadora.

Vide Sentra e Fluence que apresentam o mesmo câmbio, mas apenas o Fluence tem modo Tiptronic. Ele tem as mesmas posições do automático convencional, bem como as mesmas desvantagens.

Importante salientar que câmbio automático dando problemas é lenda e preconceito. Eu entreguei meus Hondas com mais de 150 mil km cada e não precisei refazer câmbio de nenhum deles e eles não davam problemas (o Accord hoje tem 235 mil km e não patina, apenas foi trocado o fluído do câmbio e manutenção preventiva em dia).

Por fim, temos os automatizados mono-embreagem e de dupla embreagem que, embora tenham o mesmo principio, têm finalidades completamente diferentes.

Os de dupla embreagem funcionam basicamente da seguinte forma: enquanto uma embreagem desengata uma marcha, a outra engata e isso se reflete em trocas de marcha mais rápidas.

Fora isso, tem um funcionamento idêntico a de um automático convencional, tanto que o Jetta, que conta com câmbio de dupla embreagem (DSG) e convencional (Tiptronic) compartilham a mesma manopla.
Os câmbios de dupla embreagem mais conhecidos são os da série VW DSG (6 e 7 marchas), Audi S-tronic (é o DSG da Audi, exatamente o mesmo câmbio de 7 marchas) e Porsche PDK.

E por fim, temos os automatizados mono-embreagens, algo recente no Brasil, onde apenas três marcas utilizam e com os seguintes sistemas: Fiat com o Dualogic, VW com o iMotion e GM com o Easytronic.

E é aqui que o bicho pega! No Brasil estão tentado empurrá-los como se fossem um automático comum, porém tem pegada e estilo de condução completamente diferente.

A função de um câmbio desse é dar um pouco mais de conforto ao motorista, ao passo que não há perda de potência ou piora do consumo. Ele não funciona como um automático e, pelas pessoas pensarem que ele é igual, surgem os mitos que ele é cheio de trancos e solavancos.

Primeiramente, vamos mais a fundo. Há anos os câmbios automatizados mono-embreagem são utilizados na Europa, marcas como Honda (I-shift), Peugeot (2-tronic), Renault (quick Shift), Alfa Romeo (Selespeed), Ford (Durashift EST) entre outras; inclusive sendo usado em carros com Honda Civic e Peugeot 308.

A grande diferença é que na Europa eles possuem a consciência que automatizados e não automáticos.

Esse tipo de câmbio nada mais é do que um câmbio manual com um “robô” que faz as trocas de marcha. Logo, sua eficiência depende da programação do câmbio, não dele em si. Exemplo disso é o iMotion, que usa o elogiadíssimo câmbio do Golf.

Os câmbios automatizados vem evoluindo muito, sobretudo o Dualogic da Fiat, agora na versão Plus. Muitos comparam com os automáticos, mas a verdade é a seguinte: ele não é automático, mas cumpre bem a proposta que é designado, que é oferecer conforto com baixo custo.

Sinceramente, prefiro o Dualogic do Grand Siena da minha esposa ao automático 4 marchas do Logan do meu irmão. O italiano amarra menos o carro, rende melhor, é mais econômico e por ser derivado de um câmbio manual, tem manutenção mais fácil e mais barato.

Por fim, é preciso salientar que os atuais câmbios automatizados vendidos no Brasil são adaptativos, então você irá precisar dirigir algumas vezes o mesmo carro para conseguir extrair o melhor dele.

Cada câmbio tem suas qualidades e defeitos. Se hoje me perguntarem qual câmbio eu recomendaria, tudo depende do bolso da pessoa, dos gostos e necessidades. Quer muito conforto? Procure um CVT! Quer desempenho sem pisar na embreagem? Vá de dupla embreagem. Quer entrar no mundo dos sem pedal de embreagem mas tem medo dos custos? Mono embreagem é o caminho.

Para comparar, estou com o Grand Siena da minha esposa já faz alguns dias e eu recomendaria, sim, o carro. Desde que o motorista tenha plena consciência do que ele pode oferecer.

Considerações sobre o Dualogic: após esse texto vou falar com conhecimento de causa. O Dualogic só dá todos esses trancos violentos com quem não sabe usar.

Experimente aprender a retirar o pé do fundo do acelerador e dar uma leve desacelerada quando for a troca de marchas, os trancos irão diminuir consideravelmente, e meu amigo, se você me disser que não sabe quando um carro automático vai trocar de marcha, lamento lhe dizer, mas você não conhece seu carro suficientemente bem.

Só para comparar, pude testar o Fiat Bravo Dualogic Plus e afirmo: se eu já recomendava o câmbio, com as melhorias eu recomendo ainda mais.

E o conselho “conheças teu carro como a ti mesmo” não vale só para o câmbio, mas sim para o carro todo, para aproveitar a melhor faixa de potência e torque, saber a melhor forma como agir em determinadas situações, etc.

Perder alguns minutos lendo o manual e procurando informações sobre o carro não irá fazer mal algum para você ou para ele.

Por Mario Souza

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Autor: Eber do Carmo

Fundador do Notícias Automotivas, com atuação por três décadas no segmento automotivo, tem 18 anos de experiência como jornalista automotivo no Notícias Automotivas, desde que criou o site em 2005. Anteriormente trabalhou em empresas automotivas, nos segmentos de personalização e áudio.