Meu nome é Luca Magnani, tenho 25 anos, atuo na indústria automobilística desde os 18 e fui o feliz proprietário de um VW Golf 2014 de sétima geração, com motorização 1.4 TSI e câmbio manual por um ano, no qual fiz diversas modificações e manutenções e vou relatar tudo que aprendi sobre o modelo e o que você deve olhar e esperar ao adquirir um modelo.
O hatch médio sempre foi sinônimo de esportividade e sofisticação, desde sua estreia em solo nacional em 1995, quando a VW trouxe a terceira geração do modelo, 20 anos atrasado em relação aos nossos colegas alemães.
Foi descontinuado no Brasil em 2020 quando já era ofertado somente na sua versão esportiva GTI. Mas não escrevi esse texto para contar a história do modelo (isso você encontra aqui), vim relatar minha experiência de vivência, manutenções e customizações do carro.
No segundo semestre de 2022, adquiri esse exemplar do VW Golf, foram investidos cerca de R$ 70.000, o carro era um Comfortline, com rodas 17 similares às do GTI e estava com exatos 100.000 km rodados. Bem cuidado, mas claramente precisava de uma atenção, especialmente na parte estética, a começar pelas rodas que estavam raladas e manchadas, faróis sem brilho e plásticos ressecados.
Mas por que diabos você comprou esse carro então? – você pode estar se perguntando – pelo conjunto, meu caro leitor, ele era um legítimo alemão (após o meio de 2015 os Golfs passaram a ser produzidos no México e após 2016 foram nacionalizados onde perderam a suspensão independente no eixo traseiro) que conta com acabamento um pouco superior aos nacionais e freio de estacionamento eletrônico.
Mas o motivo principal não foi esse – inclusive o freio de mão eletrônico não me agradou nem um pouco, ele te impede de fazer algumas “manobras” (você sabe do que estou falando…).
O que realmente me motivou a comprar este carro foi a mecânica 1.4 TSI aliada ao cambio manual de 6 velocidades, essa é uma configuração um tanto rara de se encontrar, à época esse era o único anunciado num raio de 150km da minha cidade aqui no interior de São Paulo.
Dados de performance
Quando original, o carro já tem um desempenho acima da média, em minhas medições fazia de 0 a 100km/h em cerca de 9s e uma velocidade final de 210km/h, todos medidos em GPS.
O motor de 1.4 litro aliado à turbina relativamente pequena te dá um soco já em baixa rotação o que se sustenta até cerca de 4500 RPM, dali em diante o carro perde o fôlego (em grande parte pela turbina) e dá sinais de cansaço, mas nada que desqualifique o conjunto, essa é somente a característica do projeto.
O câmbio manual de 6 velocidades é perfeitamente escalonado e o torque de 25 kgfm já a 1500 rpm possibilita utilizar a 6ª marcha constantemente, reduzindo seu consumo numa tocada mais tranquila.
Como sabemos, velocidade e aceleração não são tudo, esses números que citei acima são até modestos, se pararmos para analisar friamente, mas o Hatch mostra seu brilho em outro momento – o modelo é um devorador de curvas, possibilitando o condutor faze-las em alta velocidade sem esforço algum, mesmo com as assistências de estabilidade e tração desligadas e sua frenagem é rápida, firme e precisa, passando total segurança.
A frenagem ainda conta com disco nas 4 rodas e EBD, que distribui a frenagem entre às rodas aumentado sua eficiência. A direção, apesar de elétrica, não é extremamente leve, apesar que para meu gosto pessoal poderia ser um pouco mais firme.
Consumo
Esse ponto foi o que mais me surpreendeu, ele foi o carro mais econômico que possuí, o que foi assustador visto que também era o mais rápido.
Fazia uma média de 13km/l no meu trajeto diário (70% rodovia), chegando a fazer mais de 17km/l em uso 100% rodoviário, em alguns grupos do Facebook são comuns relatos de 20km/l aí deixo pra você decidir se acredita ou não… Infelizmente até 2016 ele não era flex.
Modificações de performance
Como entusiasta, sempre gostei de alterar as características mecânicas do meu carro e certamente esse foi o carro que mais investi tempo e dinheiro para isso.
Molas
A primeira modificação que fiz foi a instalação de molas esportivas pro-kit da Eibach (existem diversas marcas que fazem o mesmo, optei por elas pois eram de mais fácil acesso na minha cidade), elas baixaram o carro cerca de 3cm sem grande piora no conforto, mas com enorme ganho de firmeza na condução, especialmente em curvas.
O único porém é que o carro raspa mais e acaba pegando com certa frequência o para-choque no solo, de qualquer forma, na minha visão, o ganho estético e de estabilidade compensam esses percalços.
Pastilhas de cerâmica
Na mesma mão de obra da troca das molas, solicitei a troca das pastilhas, que já estavam no fim da vida, tinha ouvido falar muito bem das pastilhas com compostos cerâmicos e o preço delas era o mesmo das comuns, então coloquei as 4 da marca Ferodo e não me arrependi, são mais silenciosas, freiam um pouco melhor, mas a principal vantagem: não soltam aquele pó preto que suja a roda e dá um trabalhão pra limpar.
Escapamento, downpipe e filtro de ar esportivo
Alguns meses após a instalação das molas e pastilhas, troquei o conjunto inteiro do escape por um esportivo, tendo removido o catalizador, instalado um downpipe em inox e trocado toda a tubulação do escapamento, removendo os dois abafadores originais por um esportivo central, sendo que o abafador final foi removido.
O som do carro ficou fenomenal, inclusive sendo possível ouvir alguns pipocos em arrancadas, quando o controle de tração atuava e cortava a entrega de potência do motor.
Também nesse momento troquei o filtro original de papel por um K&N inbox, montado dentro da caixa do filtro original.
Essas duas modificações não trouxeram nenhuma mudança sensível na performance do carro, porém não aferi em dinamômetro para afirmar se ouve algum ganho ou não.
Chip de potência (Piggyback)
Caso ainda não tenha lido nosso texto sobre chips de potência e remap, sugiro a leitura, nela detalhei as diferenças entre cada um deles.
Nesse projeto em questão, optei pelo Unichip, que instalei eu mesmo em casa, só levei para um preparador especializado fazer o upload do mapa personalizado, ele é um produto reprogramável e que pode ser utilizado em diversos carros diferentes, necessitando somente da alteração do mapa (que tem que ser feito por profissional credenciado da empresa).
A instalação é um pouco delicada visto que é feita no chicote original da ECU, mas nada que um pouco de conhecimento de elétrica, solda com estanho e paciência não resolvam.
Para aferir o resultado, passei o carro em um dinamômetro Servitec, empresa conhecida por trazer valores reais, e o resultado foi de 157HP e 32kgfm medidos na Roda! Um ganho de cerca de 30HP e 8 kgfm.
A diferença no carro foi sensível, mas nada gritante, até por que eu pedi um mapa conservador, pra você ter uma ideia, o 0-100 km/h do carro reduziu cerca de 0,5s, sendo feito agora em 8,5s e a velocidade final foi de cerca de 220km/h.
Gas pedal
Eu sentia que apesar do carro andar mais, ele não estava com aquela pegada esportiva, de colar no banco quando cutucava o acelerador, mas isso foi facilmente resolvido com o gas pedal, optei pelo da faatech pois encontrei um usado em bom estado e preço aceitável (R$300,00), o comportamento do carro é outro, não tem nenhum ganho de velocidade final ou aceleração, já que ele não traz aumento de potência, mas a qualquer toque no pedal o carro responde prontamente e brutalmente.
O gas pedal não faz nada mais que “enganar” a central do carro quando pisamos no acelerador, informando o módulo que o pedal está mais pressionado do que realmente está, puro placebo, mas um placebo bem divertido.
Pneus de alta performance
Os pneus 225/45 R17 não aguentaram o solo quase lunar e cheio de crateras que encontramos em boa parte do nosso país, e acabaram rasgando em um buraco.
No momento da troca, acabei trocando o par dos Pirelli que estavam aplicados por um par de Michelin Pilot Sport 5 (cerca de 300 reais mais caros cada pneu) para testar – nunca tinha utilizados pneus esportivos nos meus carros e o resultado foi extremamente satisfatório.
Apesar do mais recomendado ser sempre colocar pneus novos no eixo traseiro do veículo, acabei optando por colocá-los na dianteira, justamente pra ver como seria o comportamento deles no eixo de tração e acredito que essa modificação foi a que mais trouxe resultado real no comportamento dinâmico do carro.
O 0-100km/h agora foi feito em 7,8s um ganho de 0,7s comparado com o carro somente “chipado”, o carro quase não destracionava, conseguindo passar toda potência extra obtidas através das modificações para o chão. Além do ganho na aceleração, também percebi uma melhora nas curvas, porém nada gritante, afinal o carro já é muito bom nelas.
Modificações eletrônicas
Pra mim, o ponto alto da VW no Brasil, principalmente no Golf, você pode customizar basicamente tudo que quiser no carro, basta acesso a um cabo e software VW (conhecido como VCDS), paciência para buscar informações e peças na internet e claro tempo/coragem para por a mão na massa (mas te garanto que isso você vai arrumar um jeito de fazer).
Dentre as modificações que esse software te permite fazer estão, desligar o aviso sonoro do cinto de segurança desafivelado, aumentar o número de vezes que seta pisca com um toque, habilitar ou desabilitar o bipe da chave ao travar o carro e fazer retrofits (adaptar opcionais que não vieram originalmente no seu carro).
Particularmente, eu utilizei para adaptar a central multimídia do Golf GTI 2019, que conta com Apple CarPlay, adaptar lâmpadas de LED nos faróis (caso não configure os faróis de LED, a central entende que tem alguma lâmpada queimada e fica com um aviso incômodo no painel) e algumas coisas menores como luzes de freio acendendo também no tampão do porta-malas mas principalmente o usei para diagnósticos de falha (vou detalhar mais no tópico abaixo).
Como acabei vendendo o carro, não terminei meu projeto, porém ainda iria adaptar volante multifuncional, painel digital, câmera de ré e bancos em Alcântara da versão Highline.
Manutenções
Os motores TSI são robustos e cheio de sensores, atuadores e componentes eletrônicos, que garantem seu correto funcionamento e eficiência, dito isso é de se esperar que não é qualquer mecânico que consegue mexer nele, alguns aqui no interior de SP inclusive rejeitam o serviço por falta de conhecimento e os que aceitam, acabam por cobrar um preço extra, então sim a mão de obra da manutenção de um Golf é um pouco elevada, seja por medo das oficinas seja por que realmente da um pouco de trabalho mexer nele.
Na hora da compra, verifiquei que os amortecedores traseiros estavam ruins, então negociei o valor deles com o vendedor, e adquiri o par por R$600,00 da marca COFAP em uma auto peças da região, gastando somente com a mão de obra (cerca de R$ 250,00).
A primeira coisa que fiz após foi a troca de correia, o Golf ainda utiliza correia para acionamento do comando (um ponto que poderia ser melhor, na minha visão, seria a utilização da corrente de comando), conforme descrevemos no outro post, adquiri as peças todas no site oficial da VW e gastei cerca de R$1700,00 entre correias e tensores, mais R$ 700,00 de mão de obra.
Pedi também para a oficina verificar a bomba d’água, tendão de Aquiles desse modelo, que costuma dar problema, pois caso estivesse danificada já faríamos a troca na mesma mão de obra, pra minha sorte estava tudo bem com ela.
Óleo e filtro de óleo também foram trocados, mas sem segredo algum, utilizei o Castrol 5W40 recomendado pela montadora, que é encontrado em qualquer casa de óleo ou auto peças e atende quase toda linha VW.
Passados alguns meses, para a minha surpresa, a embreagem começou a patinar, nesse momento tive o maior gasto com o carro. R$2.000,00 no kit de embreagem mais rolamento e R$ 900,00 de mão de obra. O carro ficou perfeito, porém foi um gasto razoável.
Alguns meses depois, o motor começou a apresentar uma oscilação em marcha lenta e a única falha que apresentava no scanner era na queima do combustível, dessa forma, com o auxílio de um torquímetro, eu mesmo fiz a troca das velas e bobinas (que ainda eram originais produzidas em 2014), por novas.
Apesar de estar tudo bem com o carro, vi diversos relatos de bicos injetores que travam aberto na linha TSI, podendo causar a perda do motor por calço hidráulico então de forma preventiva, fiz a troca dos bicos injetores, adquiri os 4 por R$1.200,00 no site da VW, porém não recomendo fazer a troca em casa se não tiver uma experiência com esses motores, eu tive dificuldades na desmontagem do coletor de admissão, desconexão de diversos sensores e remoção da refrigeração de ar, esse sistema é ligado na água do arrefecimento e da um belo trabalho pra soltar todas as mangueiras.
Por último, um belo dia voltando pela Rodovia Dom Pedro, na região de Itatiba-SP, o carro acendeu a luz de injeção e entrou no modo de segurança, novamente com a ajuda do cabo VAG identifiquei que o problema era no corpo de borboleta (TBI) e fiz troca dele, dessa vez por um paralelo da marca YMAX no valor de R$800,00, pois o original não encontrei a pronta entrega, e precisava do carro com urgência.
Após a troca a luz da injeção acendeu novamente indicando vazamento na pressão do turbo, que posteriormente descobri que eram os o’rings de vedação que precisavam ser trocados, mais R$100,00 investidos.
Nota importante
O meu carro contava com câmbio manual, porém boa parte dos Golfs TSI (exceto os GTI) até 2016 contam com o câmbio DSG automatizado de 7 marchas que apresentam problema na embreagem e na mecatrônica, e o reparo deles pode custar até R$20.000,00 (sim, vinte mil reais) e me perdoem os amantes do câmbio, não é uma questão de se vai dar problema e sim de quando, pode durar 200.000km (duvido) mas uma hora vai dar.
O câmbio DSG tem uma performance excelente, não me entenda mal, é um dos melhores (se não o melhor) câmbios automatizados que já veio para o Brasil no quesito desempenho, mas é problemático e caro para arrumar. E não se iluda se quem estiver te vendendo o carro disser que o câmbio já foi arrumado, o problema é recorrente e pode aparecer de novo!
Seguro
O valor do seguro dele não é nada estratosférico, tendo meu perfil (homem, solteiro de 25 anos) ficava na casa dos R$ 3.000, muito próximo do meu ex-Ford Focus 2013 (R$2.300,00) e minha atual Audi A3 2005 (R$2.500).
Conclusão
Fui muito feliz com meu Golf, certamente foi o carro mais arisco e personalizável que já tive, a manutenção dele é um pouco elevada, mas nada comparada aos esportivos importados, dá pra dizer que é bem próxima de um Up! ou Polo.
O carro é marcante e, apesar de já ter seus 10 anos de vida, ainda chama atenção por onde passa.
Encontrando um exemplar em bom estado, você não terá grandes dores de cabeça, só esteja preparado pra pagar um pouco mais em praticamente tudo que for fazer com ele, especialmente na mão de obra.
Abaixo a última foto que tive dele, já com as molas originais de volta pois o comprador não queria o carro baixo.
Meu carro atual é uma Audi A3 2005 1.8T de 150cv (por enquanto) e nos próximos textos vou detalhar as modificações que estou fazendo nela, além de reviews de outros carros como o Ford Focus 2.0 2013, Honda Fit 2004, Honda Fit 2011, Ford New Fiesta 2015, VW Fusca 1972 e meu xodó: Chevrolet Opala 1976.
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