Um ano (ou quase isso) com um C4 Lounge THP

Para efeito de informação ao seleto público do site, venho aqui deixar minhas opiniões a respeito da convivência de quase um ano e praticamente 15 mil quilômetros com um Citroën C4 Lounge Exclusive THP.

Logo que adquiri o modelo, deixei aqui um relato comparativo entre o modelo francês e o VW Jetta, meu carro anterior. Dessa vez vou me ater única e exclusivamente ao meu convívio diário, com os prós e os contras que observei no modelo na relação já mais íntima que se tem com um carro após o uso por um tempo significativo.

Confesso que adquiri o carro cheio de receios, fruto de um “preconceito” que é bem difundido no Brasil com relação a carros de origem francesa, em especial aos do grupo PSA.

Início da relação – aparando as arestas

Adquiri o carro na concessionária Saga France em Goiânia, sendo que o mesmo me foi entregue na data e horário combinados. O consultor que me entregou o carro foi atencioso, fez uma explanação detalhada do modelo, pareou meu celular com o multimídia do carro.

Enfim, tudo dentro da normalidade, com uma única ressalva: ele me mostrou uma pequena peça lateral do banco traseiro que contava com revestimento em tecido, em contraste com todo o resto do couro que compunha o interior do carro.

Sendo que me disse que já havia acionado a garantia para a substituição da peça, o que foi providenciado pouco tempo depois após contato telefônico para a realização do serviço, o que foi feito em poucos minutos, enquanto eu aguardava na concessionária.

Os primeiros dias reservaram algumas pequenas “surpresas”, as quais relato por tópico:

• A moldura da maçaneta da porta dianteira direita veio solta – eu mesmo a encaixei no lugar;

• Na parte inferior da porção central do painel, logo abaixo dos botões do ar condicionado, há uma peça plástica que faz o acabamento daquela seção. Ela veio desalinhada. Eu mesmo a retirei e fiz a análise de como se encaixava, reinstalando-a adequadamente;

• O carro veio fazendo um barulho forte de lata em sua parte de baixo quando já aquecido, do tipo metal raspando com metal. Pelo tipo do barulho logo me veio à cabeça aquele anteparo de alumínio que faz o isolamento do fundo do carro em relação ao escapamento. Olhei por debaixo e bingo!

Uma daquelas latinhas estava instalada de forma que quando se dilatava pelo calor, raspava em um caninho metálico que passa logo acima dela. Foi deitar lá, dar uma ajeitada nela (é bem maleável) e fim do problema;

• As dobradiças das portas vieram sem lubrificação, gerando rangidos quando da torção do chassi: bati lubrificantes nas 4 portas e ficou tudo ok;

• O painel veio apresentando ruídos em ruas de pavimento irregular. Dei uma observada boa e verifiquei que o barulho vinha do cluster, sendo que ao tocá-lo, notei que o mesmo tinha uma folga milimétrica com relação ao painel, o que permitia que se movimentasse para cima e para baixo alguns milímetros. Inseri anteparos mínimos e invisíveis nas bordas e nunca mais tive problemas.

Como se vê, é uma lista considerável de problemas mínimos, mas que demonstram uma certa falta de cuidado no controle de qualidade da entrega. Não fosse eu dotado de boa experiência com carros e resolvesse tudo por conta própria (gastei uma semana para visualizar e colocar tudo ok), por certo me desgastaria com algumas visitas à concessionária.

A tempo: a folga no painel é característica dos C4 Lounge em geral. Verifiquei isso em visita na concessionária, onde as duas unidades do showroom apresentavam a mesma folga no cluster.

Finalizado o tempo de aparas de início de relacionamento, vamos ao casamento em si.

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Do tão falado conjunto motriz

Não há como negar, o conjunto motriz formado pelo motor THP e o câmbio automático de 6 marchas é o ponto alto do modelo. É chover no molhado, mas é um diferencial do carro dentro da média da concorrência.

Força em qualquer giro, potência de sobra em qualquer situação, trocas de marcha no tempo certo, com suavidade e rapidez. Não há muito que se dizer do que o conjunto motriz proporciona em termos de desempenho. É algo próximo da perfeição.

Talvez a pequena vibração observada quando se deixa o câmbio em “D” com o carro parado (em um semáforo, por exemplo) possa ser um detalhe a ser pontuado. Ouvi dizer que deram um “tapa” nessa característica juntamente com a adoção do motor flex, não pude conferir. Mas é um detalhe quase imperceptível, e que fica resolvido criando-se o hábito de jogar o câmbio em “N” nas paradas.

Maior defeito fica mesmo no consumo: eu esperava mais. Médias urbanas um pouco acima de 7 km/l (trânsito urbano de médio para pesado) e rodoviárias na casa dos 12 km/l (carro cheio, com velocidade na faixa de 120 km/h) é o que eu obtive após o amaciamento.

Não chega a ser ruim, em especial se considerarmos que o carro pesa uma tonelada e meia, mas em um modelo com motor 1.6 turbinado e sem tecnologia flex…. Bem, esperava obter algo melhor.

Do comportamento dinâmico – suspensão/direção

O conjunto suspensão/direção do C4 funciona bem, mas sem ser brilhante, é a conclusão a que cheguei. A direção eletro-hidráulica é razoável, mas deixa a desejar no peso algo exagerado em manobras em comparação às elétricas mais modernas.

E o volante, a despeito de ser bonito e confortável (o revestimento de couro o torna muito agradável ao toque), possui diâmetro um tanto quanto exagerado em minha opinião, deixando as manobras mais lentas que o usual.

De toda sorte, acabou sobrando bom espaço para os comandos de som, telefonia e limitador/controlador de velocidade, que ficaram muito bons e intuitivos.

Já a suspensão é bastante confortável de forma geral, apesar de quando acionada por buracos mais acentuados, acaba por produzir estampidos secos, altos e incômodos. Os pneus de perfil muito baixo montados nas belíssimas rodas de aro 17” são protagonistas nesse comportamento, sem dúvidas.

Em contrapartida ao conforto, ela acaba proporcionando um comportamento mais “manso” em termos de dinâmica ao carro.

A carroceria apresenta algum grau de rolagem em curvas mais velozes, deixando a esportividade mais relegada ao desempenho do conjunto motriz. Não chega a ser um pecado em um sedã médio familiar, mas acaba por entrar em choque com o desempenho diferenciado que o motor THP proporciona.

Somando-se com a direção grande e não muito direta, acaba que o sedã se torna um pouco “anestesiado” na interação com o motorista. A posição de dirigir, com o banco um pouco mais elevado com relação ao solo (mesmo na regulagem mínima) opera em favor dessa característica.

Do ambiente interno e conforto aos ocupantes

O C4 realmente recebe bem seus ocupantes. O carro é bem acabado, bonito mesmo por dentro. Seja no revestimento dos bancos em couro de diferentes tonalidades, seja no belo painel digital ou na vistosa porção central com a estação multimídia em evidência, o carro realmente agrada a seus passageiros.

O espaço interno é muito bom para todos os ocupantes, a despeito da porção central do banco traseiro contar com o descansa braço escamoteável e com o túnel central, que acabam por tornar a vida do ocupante do meio um pouco mais complicada em viagens mais longas.

Eu realmente sou muito comedido em levar apetrechos para dentro de um carro, sendo que não costumo sentir muita falta dos tão falados “porta-trecos”. Mas é visível que no C4 eles são bem limitados.

Um porta-copos, outro pequeno nicho longitudinal ao lado do freio de mão, o “baú” entre os bancos (tamanho médio, nada muito grande), um bom porta luvas e os tradicionais nichos no fundo das portas (são relativamente pequenos) são tudo o que há.

A falta de um porta-óculos é o que realmente me incomodou, no fim das contas, mas quem faz questão de ter múltiplos nichos para colocar pertences vai se ressentir da falta deles no Citroën.

Em termos do que posso chamar de “falhas”, o extintor que fica na parte inferior do banco do passageiro dianteiro merecia um revestimento acarpetado. Quando o banco é afastado mais para trás ele fica bem visível, o que acho que não combina com o bom acabamento geral do modelo.

Há ainda o acionamento do porta-malas: ele só é possível por botão no painel ou pelo comando do controle remoto. Não há botão de abertura na própria tampa. Pode parecer bobagem, mas em um carro com sistema keyless isso realmente incomoda.

É muito normal você deixar a chave dentro de uma mala ou bolsa, o que acaba por gerar a necessidade de se entrar no veículo para apertar o botão na parte inferior esquerda do painel, destravando a tampa.

Quanto à estação multimídia, vá lá, ela cumpre sua função. Mas não é a oitava maravilha do mundo. A utilização dela até que não é complicada, é intuitiva e logo se aprende o uso de todas as suas funções.

Mas a inserção de endereços no GPS é meio burocrática, por intermédio de girar e apertar um botão no centro do painel. E há também o fato de a mesma ser meio “lerda” na inicialização.

Não é sempre, mas tem hora que você liga o carro e a danada demora uns 20 segundos para dar o ar da graça. Enquanto isso fica estampado o símbolo da Citroën na tela.

Acaba que incomoda às vezes, já que as funções de câmera de ré e sensores de estacionamento funcionam vinculadas à estação, o implica na necessidade de, caso você esteja estacionado em um local que demande a utilização de manobras, ficar aguardando a inicialização terminar.

Nada muito grave, mas é necessário se acostumar. E na pressa, pode acabar incomodando.

Ainda no que tange aos inconvenientes, a proteção acrílica do cluster reflete muito em determinada hora da manhã o acabamento da parte superior do revestimento da coluna de direção, tornando meio chato visualizar o velocímetro analógico.

Isso é compensado pela possibilidade de você ter o velocímetro digital no centro do painel, mas vale o registro.

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Do convívio – relação tranquila

Em termos de convivência, digamos que tudo caminhou de forma muito tranquila nesse um ano com o C4. Não há problemas significativos a relatar.

A primeira revisão (10 mil km) foi feita rapidamente, sem maiores detalhes, apenas com a minha solicitação para a correção de um ruído que os retrovisores rebatíveis geravam por alguns segundos após fechados (esse defeito foi narrado também pela 4Rodas no C4 do teste de 60 mil km), o que foi feito a contento e em garantia.

Cobraram o valor tabelado (R$520,00 em 4x) e me entregaram o carro na hora combinada, muito bem lavado.

Há um mês, mais ou menos, um cidadão em uma Montana deu uma esbarrada na parte traseira direita no ato de eu parar em uma faixa de pedestres, pegando só a capa plástica do para-choque.

Houve um dano quase imperceptível na pintura, o qual nem precisou de reparo, mas instantaneamente o painel acusou defeito no sensor de estacionamento, que se desligou automaticamente.

Coloquei a mão por dentro do para-choque e vi que o cabo do sensor da extrema direita havia se rompido, desconectando-se do mesmo.

Levei o carro à concessionária e aproveitei para pedir o alinhamento e balanceamento do carro, porque o período chuvoso aqui em Goiânia foi cruel para as ruas e a prefeitura aqui anda lenta no serviço (aliás, anda lenta em tudo), e acabei acertando uma boa meia dúzia de buracos com alguma severidade nesse período.

O resultado foi a necessidade de desempenar 3 das 4 rodas antes do alinhamento e balanceamento, além da substituição do sensor de estacionamento traseiro.

Qual não foi minha surpresa quando me informaram que trocaram o sensor na garantia, independente do defeito no mesmo ter sido causado por impacto de terceiros. Ponto para a Citroën e um motivo para aumentar minha desconfiança de que a fama de maus tratos no pós-venda é, em algum grau, indevida.

Quanto aos pneus e sistema de suspensão, apesar dos danos nas rodas, aguentaram bem a “pancadaria”, demonstrando que os pneus Michelin com fator de carga 94 estão bem dimensionados para o modelo, a despeito de seu perfil muito baixo (45) e que a suspensão também está bem adaptada às demandas absurdas que nossas ruas e estradas impelem a nossos veículos.

Das conclusões até aqui

Confesso que estou bem impressionado positivamente até o momento com o carro e com o atendimento no pós-venda que me foi dado até aqui.

Em termos de estilo, de certa forma o Lounge é um modelo que garante algum grau de exclusividade, já que o meu é da cor gris moondust (um tipo de chumbo com uma leve pitada de marrom). O sedã da Citroën já não é o carro mais comum nas ruas. Nesta cor então…

O carro é surpreendente em muitos aspectos. O computador de bordo é muito completo e surpreende pela quantidade de informações que é capaz de apresentar.

No centro do mostrador central são apresentadas frase das mais diversas a respeito do estado do veículo (por exemplo, quando danificaram o sensor traseiro foi informado o seguinte – “Defeito no sistema auxiliar de estacionamento”, o que era repetido sempre que se dava partida no carro), repetidas informações de manobras a serem realizadas em trajetos marcados pelo GPS, bússola, rua em que se está trafegando, música tocada no momento, dentre muitas outras.

E há diversos mimos interessantes, como a possibilidade de se escolher entre cinco cores para a porção externa e/ou central do painel e a “piscada” em vermelho que o conta-giros digital dá quando o carro chega no limite de giros.

Em termos de robustez, há dois parâmetros a serem comentados: um seria a robustez dinâmica, aquela que se analisa com o carro em movimento. Nessa o C4 é impecável.

O carro passa uma sensação de suportar bem qualquer condição que lhe seja imposta sem fazer nenhum ruído de chassis ou de peças de acabamento, e a suspensão trabalha acertada, sem demonstrar qualquer sinal de que está se ressentindo das solicitações a que é submetida.

Já no que tange à robustez estática, ou aquela em que você analisa o carro detidamente com ele parado, há algumas ressalvas: as abas laterais dos para-choques dianteiro e traseiro são excessivamente maleáveis, incluindo nesta observação os para-barros instalados sob as caixas de roda, o que passa um sentimento estranho a quem analisa aquela parte do carro.

Bem, é uma sensação de que aquilo ali com o tempo possa ter sua vida útil limitada em função da excessiva maleabilidade. É algo subjetivo, que fica no campo das percepções, mas vale a pena o registro.

Por fim, dirigir o carro é realmente uma experiência muito agradável. O desempenho diferenciado proporcionado pelo motor, o nível excelente de equipamentos, o ótimo acabamento, o bom espaço e conforto… tudo leva ao contentamento.

Somado ao fato de que até o momento não posso relatar sequer um ruído de acabamento ou de qualquer outra natureza, dá para afirmar que o conceito que estou construindo com relação à marca francesa é bem distinto do pré-conceito que me permeava até adquirir o carro. Já estou até pensando em comprar um Peugeot 2008 para a minha esposa… vamos ver a quantas segue a carruagem.

Por Ubaldir Silva.

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Autor: Ricardo de Oliveira

Com experiência de 27 anos, há 16 anos trabalha como jornalista no Notícias Automotivas, escreve sobre as mais recentes novidades do setor, frequenta eventos de lançamentos das montadoras e faz testes e avaliações. Suas redes sociais: Instagram, Facebook, X