60.000 km com Jetta, 1.000 km com C4 Lounge (comparativo)

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Prezados amigos do NA, como assíduo frequentador do site desejo compartilhar minhas experiências com alguns modelos que tive contato mais íntimo no intuito de fornecer informações que possam ser úteis a alguns leitores que pretendam adquirir em um futuro próximo um modelo entre os que vou descrever.

Eu acabo de me desfazer de um Jetta Comfortline 2011/11, com o qual convivi por 3 anos e 3 meses e por praticamente 60 mil km rodados.

Modelos dessa faixa de mercado costumam se desvalorizar com mais intensidade com o avanço da idade e tendem a possuir custos de manutenção mais salgados quando peças mais robustas começam a pedir substituição, o que é normal à medida que o carro se aproxima dos 100 mil km rodados, ao que me obrigo à troca por um novo ao vencimento do prazo de garantia.

Como isso ocorreu em abril último para o caso do Jetta, passei a estudar entre as opções do mercado e cá estou com um C4 Lounge Exclusive THP sem teto solar.

60.000 km no Jetta

Pois é, 3 anos se passaram com o Jetta e posso relatar com precisão as experiências vividas com este carro que tanto gera polêmica e discussões acaloradas em sites especializados em automóveis.

O que posso dizer sobre ele? Que foi muito bom companheiro nesse tempo e que chegou aos 60 mil quilômetros esbanjando vitalidade e em excelente estado. Zero de ruídos internos, zero de problemas efetivos.

Os reparos que ocorreram nesses pouco mais de 3 anos foram todos resolvidos em garantia:

– Rolamento da roda dianteira direita roncou com 10 mil km, logo após o carro ter sido “sugado” para dentro de uma cratera junto a um meio-fio numa manobra de estacionamento. Não houve dano visível no incidente, pois o carro desceu até apoiar o braço de suspensão no chão, sendo que só houve trabalho para retirá-lo do buraco.

Mas logo depois o rolamento começou a fazer ruído. Levei na concessionária e diagnosticaram o defeito no rolamento, ao que providenciaram a substituição do par de rolamentos dianteiros em garantia;

– O tanquinho de partida a frio apresentou discreto vazamento em duas ocasiões, o que fazia o cheiro de gasolina incomodar na cabine. O problema foi devido ao ressecamento de uma borrachinha com poucos milímetros de comprimento que faz a emenda do tanquinho com a tubulação de saída do combustível.

Resolveu-se o incômodo nas duas vezes com a substituição da minúscula borrachinha (custa centavos segundo o atendente da concessionária), mas o fato de ter ocorrido por duas vezes indica que o problema deve voltar a se repetir em algum momento;

– Danificaram a rosca do parafuso do cárter, por onde se faz o escoamento do óleo do motor. O aperto do parafuso com rosca enviesada ocasionou o dano. Substituíram a tampa do cárter em garantia;

– Aos 40 mil km rodados a junta homocinética direita começou a apresentar discretíssimo estalo nas subidas de rampa de garagem com o volante esterçado. Acredito que tenha ainda sido consequência do incidente ocorrido aos 10 mil km. Na concessionária substituíram o semi-eixo direito em garantia.

E nessas ocorrências se limitou a folha corrida do carro. De resto foi uma convivência pacífica, sem outros defeitos a relatar.

O motor 2.0 de 120 cavalos

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Vamos ao que mais importa: falar do motor 2.0 de 120 cv, alvo maior de controvérsia nesse Jetta de “entrada”. A unidade de força velha de guerra da VW é antiquada, com projeto já datado, fornece pouca potência específica, só tem 8 válvulas, etc., etc. É aquilo que todos já sabem.

Mas o que posso dizer é que é uma receita que ainda funciona. O carro mostra disposição para se mover de forma a ainda dar prazer a quem dirige. Não se sente falta de fôlego em situações cotidianas, nem em uso urbano e nem no rodoviário.

O carro passa a sensação de estar pronto para responder ao que o seu motorista lhe propõe, sem sustos, sem muita morosidade.

Só não exija dele comportamento esportivo. Se for “brincar” de arrancar com alguém em um semáforo, certifique-se que o modelo ao lado tem motor de 1.4 aspirado para menos. Caso contrário, é pedir pra passar vergonha. A sensação de que o modelo arranca rápido é meio “faz de conta”.

O torque disponível em boa parcela desde os regimes de giro mais baixos faz parecer que você conta com um veículo ligeiro nas mãos, mas isso não é realidade. Portanto, se você utiliza o veículo como um pacato pai de família, exigindo somente que ele o leve pra lá e pra cá de forma honesta e até prazerosa, ok.

Mas se pretende retirar dele um desempenho esportivo, esqueça. Aí ele realmente vai te decepcionar.

A suspensão e a direção do Jetta são típicas dos modelos VW: rígida e direta sem ser extremamente desconfortável. O carro tem ótimo comportamento dinâmico, e faz até você se esquecer que está ao volante de um sedã com 4,64 metros de comprimento, permitindo uma tocada divertida, em especial no contorno de curvas.

O “porém” fica por conta de seu funcionamento muitas vezes ruidoso. Em curvas com piso irregular é comum se sentir um “toc-toc” irritante vindo do quadro dianteiro, semelhante ao que seria um estalo intermitente na coluna de direção.

E passar por obstáculos como lombadas em velocidades maiores é sempre seguido de um susto: a suspensão volta muito rapidamente após comprimida, o que ocasiona um estrondo forte, sempre muito desagradável.

Mas que fique claro que são ruídos ocasionados pelo funcionamento da suspensão mesmo, a famosa “característica de projeto”. A geometria sempre correta em 60 mil km e o gasto de pneus sempre de forma regular (o jogo original durou quase 50 mil km) atestam a robustez do sistema.

No mais, espaço interno e porta-malas bastante generosos, boa interação do motorista com o carro, posição de dirigir excelente e som de primeira qualidade fecham as características do modelo.

Chegamos aos quase 60 mil km com o carro em condição de “zero km”, com rigidez do chassis impecável, solidez dos acabamentos internos também muito satisfatória e com custos de manutenção dentro do que eu chamaria de normais: primeiras revisões na casa dos R$ 300 e as últimas as aproximando dos R$ 800.

O convívio com a concessionária que me atende foi pacífico. De negativo apenas o dano no cárter na segunda revisão e alguns arranhões nas rodas quando solicitei a substituição dos pneus já perto dos 50 mil km.

Compra do Citroen C4 Lounge

Depois de muito me debruçar sobre meus conhecimentos a respeito dos diversos “players” do mercado de sedãs médios, acabei por optar por trocar um certo “pré-conceito” a respeito das marcas francesas por um “conceito”: daqui a algum tempo terei uma opinião real formada sobre produtos da Citroen.

O C4 Lounge Exclusive THP quase incontestavelmente oferece um custo benefício difícil de ser batido no mercado atual. Muito bem equipado, com linhas elegantes, espaço interno entre os melhores da categoria, motor diferenciado… digamos que se trata de um excelente pacote.

Esperei um tempo para ver se os rumores da troca do motor 2.0 aspirado do Jetta Comfortline pelo 1.4 TSI iriam se confirmar, mas como vi que esta não será uma realidade no curto/médio prazo, descartei o VW.

Na comparação que apresentarei mais a frente ficará clara a minha escolha.

Bem, já conheço bem o Honda Civic, e o que ele oferece pelo preço pedido não me agrada. E seu espaço no banco traseiro, em especial na altura do teto, é insuficiente para as minhas demandas (mais de 1,90 de altura, filha bebê, filho adolescente com mais de 1,90m de altura).

O Renault Fluence e o Peugeot 408 ficam de fora pelo simples fato de que suas aparências muito me desagradam: é minha opinião, mas eu estou comprando o carro para mim, ora bolas.

Ambos possuem ótimo espaço interno, o 408 tem acabamento interno que chama a atenção em meio à concorrência. Mas ter que olhar para a sua garagem todos os dias e se deparar com um design que não lhe agrada aos olhos não é algo prazeroso.

O Toyota Corolla tem um estilo que, mesmo remoçado na nova geração, também passa à margem de minhas preferências. E não me senti muito bem no seu interior: o ar retrô da cabine é forte, e o preço pedido é bem alto se analisado o que se oferece em termos de requinte e equipamentos.

É realmente aquele caso de “desamor à primeira vista”. Não me convenceu. Acho que ainda não cheguei à idade certa, rs.

Chevrolet Cruze e Ford Focus são facilmente descartados pela falta de espaço interno. O aproveitamento de suas cabines fica longe do que os demais concorrentes oferecem, e como minha prioridade está exatamente do tamanho da cabine, impossível considera-los, por mais que possam apresentar outros atributos interessantes.

Portanto, vamos nós fazer test-drive do Citroen C4 Lounge. O 2.0 é um tanto quanto reticente nas retomadas. Claramente a curva de torque do aspirado não é das mais alvissareiras. Até os 3 mil giros há uma letargia que não agrada.

Já o THP é simplesmente perfeito no que entrega de vivacidade ao carro. O câmbio funciona à perfeição com ele. O carro está “vivo” desde o ponto morto. Não há o que se queixar do conjunto motriz no modelo turbinado.

O interior é muito bom, fornecendo uma ótima sensação de requinte já a primeira vista. Junte-se a isso o conforto de rodagem (a suspensão macia e o silêncio interno impressionam) e o altíssimo nível em termos de equipamentos disponíveis, e fica-se muito próximo de fechar o negócio. Aí vem pagarem bem no seu usado, taxa zero no saldo em 24 vezes… fechei o negócio.

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Citroen C4 Lounge x Volkswagen Jetta

São só 1.000 km rodados com o C4, mas fica impossível não tecer uma comparação entre os dois modelos, ainda mais que a experiência com o Jetta ainda está muito viva na memória. Vamos por partes…

Quem vê cara…

A primeira coisa que se aprecia em um carro é seu design. Você chega, dá uma volta ao seu redor, vê os detalhes até onde a vista alcança. O C4 possui linhas mais elaboradas que as do Jetta, fornece uma percepção de “requinte” maior em detalhes, tem mais vincos desde as duas nervuras sobre o capô até a linha curva sobre as caixas de roda traseiras.

O vidro traseiro convexo no encontro com a tampa do porta-malas e o enorme para-brisas muito inclinado são originais e chamam a atenção.

Os acabamentos cromados que contornam a linha inferior dos vidros laterais, que ligam as duas lanternas traseiras, que estampam o símbolo da marca na grade do radiador e que fazem um formato de “U” na parte inferior do para-choque são de extremo bom gosto.

Além disso, os faróis e lanternas passam a sensação de mais valor agregado que no VW e as rodas aro 17” são simplesmente maravilhosas.

Mas…

O Jetta tem linhas mais simples, mas que me parecem mais harmoniosas. O sedã da VW passa uma sensação de porte mais avantajado que não possui paralelos na concorrência (talvez apenas o Fluence se aproxime nesse aspecto).

A frente é bonita, apesar do monótono “Family face” da VW que estampa quase toda a linha. O C4 possui enormes faróis que, se são bonitos quando observados em particular, trazem uma sensação de que elevam demais a frente do carro por estarem dispostos faceando em sua linha superior o capô, o que tira um bocado a sensação de harmonia do desenho.

No frigir dos ovos, somados prós e contras, confesso que ainda sou mais o Jetta. Vitória apertada do VW.

Por dentro do assunto

Abre-se a porta e entra-se no interior do veículo, e… não dá pra negar: a primeira sensação dentro do Citroen destrói o Jetta.

Tudo passa ar de mais requinte no francês. Desde os bancos até os botões da seção central do painel, tudo leva a crer que há mais capricho dentro do Lounge.

Vamos por pontos:

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Painel

Toda a porção superior do painel dos dois modelos é revestida por material “soft touch”. Mesmo assim, a textura que se observa no C4 agrada mais aos olhos e ao tato.

O painel muito “curtinho” do VW (ele pouco avança para dentro da cabine a partir do para-brisas) ressalta o ar de simplicidade que é comum dentro do Jetta. Os clusters do VW também são visualmente simplórios, muito lembrando muito o que temos em um Fox. Há capricho na montagem, mas o design é algo “sóbrio demais”.

Já no C4 tudo parece mais elaborado, visualmente, mais cuidado que no Jetta: a escolha de cores disponível para o cluster, as escalas digitais para conta-giros (ela é branca, mas fica vermelha quando se aproxima do limite de rotações) e indicador de nível do combustível.

O volante é visualmente mais caprichado, o revestimento imitando fibra de carbono na porção central, os botões da central multimídia… tudo é visualmente mais agradável no francês.

Os elementos que o Jetta compartilha com diversos outros produtos da linha (acionador de farol, alavancas atrás do volante, espelho do para-sol e sua iluminação, etc.) acabam por denotar um ar ainda maior de simplicidade. Há a questão da ergonomia, onde enxergo certa vantagem para o Jetta.

Nele tudo parece estar mais à mão que no C4, os comandos da central multimídia demandam alguma prática no C4, os comandos de rádio, telefonia e computador de bordo no volante são mais completos no Jetta, até porque no Lounge os botões à esquerda no volante estão ocupados pelos comandos de cruise control e limitador de velocidade, ao passo que no VW estes se encontram em alavanca.

Mas não é nada que seja determinante em termos de utilização no dia-a-dia. Uma semana no C4 e você já está totalmente familiarizado com tudo ali. Até mesmo com o botão de partida à esquerda do volante… ponto para o C4, com certa folga.

Painéis de porta

Aqui a coisa fica feia para o VW: em minha opinião os forros de porta do Jetta passam longe do que seria de se esperar em um carro deste nicho de mercado.

Fico me perguntando o motivo de o sedã médio não seguir o padrão que encontramos no novo Golf. O acabamento plástico da parte superior, junto à linha dos vidros, passa uma sensação de ser feito em material muito “chinfrim”.

Há uma rebarba junto à extremidade que fica próxima ao retrovisor que denuncia rapidamente até ao usuário menos observador de que ali se encontra um plástico sem nenhum requinte, a despeito de sua superfície tentar imitar o que se vê no acabamento emborrachado do painel.

Na sua porção central até chegar ao descansa braço, encontra-se uma superfície totalmente plana que parece estar revestida no mesmo couro sintético dos bancos, mas que não possui qualquer acolchoamento, fornecendo uma impressão de que ali pode estar uma outra superfície plástica imitando um revestimento mais nobre.

Confesso que em 3 anos de convivência não cheguei a uma conclusão definitiva sobre o assunto. O descansa-braço é acolchoado e revestido em couro, mas seu prolongamento em direção aos comandos dos vidros elétricos se dá no mesmo plástico de aparência ruim do topo do painel das portas.

E há um adendo: normalmente, quando você faz uma curva mais forte para a direita, tende-se a apoiar o joelho na forração da porta do motorista, bem no prolongamento do descansa-braço. Ele dá estalos muito incômodos nessas situações, deixando trespassar uma sensação de fragilidade.

Na porção inferior, mais do plástico de qualidade duvidosa. Ele se arranha com facilidade (minha esposa carregava uma bolsa com acabamento metálico junto à porta que riscou toda a superfície do acabamento).

O porta-trecos possui um tipo de “tapetinho” emborrachado colocado em sua superfície inferior. Ele até evita que objetos ali colocados façam barulho, mas passa uma sensação de improviso (ele é simplesmente jogado no fundo do nicho, sem qualquer presilha) que destoa do que se esperaria da categoria do modelo.

Já no C4 tudo passa uma sensação de mais qualidade visual, de mais requinte. A porção superior (junto aos vidros das portas) é emborrachada em um acabamento semelhante ao do painel (apesar de mais duro ao toque, menos acolchoado).

A porção central tem curvaturas e é moldada em um plástico muito agradável visualmente e também ao toque. O descansa-braço é revestido no mesmo couro dos bancos.

Aqui um adendo em favor do Jetta: o prolongamento em direção aos comandos dos vidros e retrovisores elétricos sofre uma angulação ascendente, fazendo com que se tenha uma posição melhor de operação dos botões no VW, a despeito de ser muito comum você acionar os vidros traseiros involuntariamente no lugar dos dianteiros no modelo alemão, fato que não ocorre no C4.

A parte inferior do forro de portas do francês segue a padronagem do plástico da porção central, agradável à vista e ao toque, mesmo sendo rígido. Somando tudo, vitória folgada do C4 neste item.

Console central

Aqui a questão visual se mantém favorável ao C4. O plástico ali empregado segue a padronagem da porção central da forração das portas, garantindo um ar mais sofisticado que no Jetta.

A alavanca do freio de mão é mais elaborada em termos de design no francês, e conta com botão de acionamento cromado, detalhe “bobinho”, mas que entrega requinte ao conjunto. O descansa braço central tem um dispositivo no C4 que o permite avançar alguns centímetros à frente, o que não existe no Jetta.

Em desfavor do francês só mesmo o nicho que se forma na união entre o painel e o console, mais bem resolvido no Jetta. Mas no geral, nova vitória do C4.

Bancos

Mais uma vez o que salta aos olhos é a qualidade visual do que se apresenta no C4. O tal do “couro nature” (couro sintético que a VW disponibiliza para o Comfortline) não convence em termos visuais.

A qualidade de construção é ótima, mas deixa a dever no que tange à percepção visual e ao tato. No C4, couro natural com peças em texturas diferentes entre si e porções em couro perfurado fazem um conjunto que encanta aos olhos e ao tato.

Quanto ao conforto, os bancos do Jetta tendem ao “banco concha”, com design arrojado, abas muito pronunciadas, estofamento mais modesto, com espuma mais rígida, e espessura dos encostos e assentos bem limitada.

Eles dão um ar mais esportivo ao interior do VW e permitem que se cole mais o banco no assoalho, mas ficam devendo um pouco na maciez e conforto de quem ali se aloja. Já no C4 a prioridade é o conforto, a maciez.

Como o entre-eixos é maior no francês, acredito que o expediente do banco “fininho” seja desnecessário, possibilitando maior oferta de material espumoso nos encostos.

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No banco traseiro a história se repete: aos olhos é inegável a supremacia do C4. O estofamento continua mais generoso no francês, garantindo mais maciez para quem ali se aloja. Há também o bônus do encosto mais reclinado no C4, sendo notável a maior comodidade em trajetos mais longos.

E há ainda a questão do descansa braço retrátil do centro do banco traseiro, onde o C4 apresenta maior capricho, com bonitos porta-copos escamoteáveis. O do Jetta tem um ar mais simplório. Somado tudo, nova vitória do francês nesse quesito, também com certa folga.

Porta-trecos

Aqui o VW mostra a que veio. Os nichos nas portas para alojar as coisas que sempre trazemos ao interior do veículo são bem maiores e mais profundos no Jetta. Nas portas dianteiras há espaço para alojar garrafas d’água de grande volume.

O espaço existente sobre o descansa-braço central é bem mais avantajado em volume no VW. No console central há apenas um porta-copos no C4, contra 2 no Jetta, sendo que se disponibiliza no VW também um cinzeiro removível (nunca se sabe quando um fumante estará contigo).

Há no Jetta um útil porta-óculos no teto, algo que não se tem no C4. Há também a ótima gaveta alojada sob o banco do motorista. O nicho que se forma entre a porção central do painel e o console entre os bancos também é mais útil no Jetta (no C4 as tomadas USB e 12v ocupam totalmente o nicho).

A favor do Citroen só mesmo o porta-luvas mastodôntico devido à maior profundidade do painel (no Jetta ainda se ocupa algum espaço com a entrada USB), a existência de porta-revistas nos encostos dos dois bancos dianteiros (no Jetta só temos em um) e os charmosos porta-copos escamoteáveis do descansa braço retrátil. Ponto para o Jetta.

Posição de dirigir

Aqui vai muito do gosto do cliente. O Jetta tem uma posição de dirigir que garante uma sensação de esportividade imensa, sendo quase que possível colar os bancos no assoalho e lançar suas pernas quase na horizontal em busca das pedaleiras.

No C4 a posição é mais tradicional. Em ambos é possível encontrar uma posição confortável de guiar, graças à regulagem ampla de altura de bancos e altura e profundidade do volante.

Vale o adendo de que no Jetta é possível também regular a altura do banco do passageiro da frente, algo bem raro mesmo em categorias superiores. O banco do motorista do Jetta também tem um dispositivo de regulagem lombar que é limitado, mas tem lá sua utilidade. Somado tudo, em minha opinião, mais um ponto para o Jetta.

Espaço interno

Aqui poderíamos esperar uma vitória folgada do C4, já que ele conta com entre-eixos 6 centímetros maior que o do Jetta. Mas a VW conseguiu um verdadeiro milagre do aproveitamento do espaço interno no seu sedã médio.

Olhando “com lupa”, dá para intuir que a mágica vem do encurtamento do painel, do para-brisas menos inclinado e de dimensões mais reduzidas, o que permite que os bancos dianteiros caminhem em direção à frente do veículo, aos bancos dianteiros com encosto de espessura bem reduzida e ao banco traseiro bem encaixado no vão do porta-malas.

Desta forma, apesar de ter um modelo que conta com o menor entre-eixos da categoria, a VW conseguiu inseri-lo entre os de espaço para os ocupantes mais generoso. O design do Jetta também contribui para que não se tenha problemas com a cabeça dos ocupantes, mesmo os mais altos que forem sentados no banco de trás.

O C4, por possuir maior entre-eixos, não precisa de muita firula para ter bom espaço interno. Todos vão muito bem acomodados no carro, seja no tocante a joelhos, seja no que se refere à cabeça. Empate técnico neste item.

Porta-malas

Para este item os números não mentem: o Jetta conta com 510 litros de capacidade contra 450 do C4.

Entretanto, o Citroen compensa com um acabamento interno superior no compartimento, com revestimento integral do lado interno da tampa com carpete (no Jetta é parcial com plástico), forração do assoalho diferenciada e compartimento que isola os “pescoços de ganso”, impedindo que os mesmos possam danificar a bagagem.

O Jetta contra-ataca ao possuir duas interessantes compartimentações nas laterais, atrás das caixas de roda, uma separada do porta-malas por placa plástica, outra por rede elástica.

O VW ainda conta com uma útil rede com ganchos de fixação que se prendem a alças existentes na lataria nos 4 cantos do compartimento, permitindo fixar objetos menores para que não fiquem soltos e produzindo ruídos em movimento.

No frigir dos ovos, o Jetta vence no desempate pela maior capacidade. Até porque o acabamento do porta-malas é um assunto muito relativo, já que não se costuma carregar um convidado ali.

Som

Aqui um tópico em que o VW é imbatível. A qualidade do som em seu interior é notável. Graves e agudos são ouvidos com perfeição. No Citroen o som até convence, mas não se compara ao que se tem no Jetta. Ponto para a VW.

Assim, somando item por item do quesito interior, temos um panorama pouco animador para o VW. Isso vai ser reforçado mais a frente quando avaliamos o comportamento da suspensão. Em termos de interior, o Citroen tem vantagem folgada na comparação com o Jetta.

Vamos deixar a beleza interior de lado e passar a analisar o coração dos dois modelos. Vamos à parte mecânica.

1.6 THP x 2.0 8v aspirado

Cabe aqui um adendo na comparação: muitos vão me questionar se o correto não seria comparar o THP da Citroen com o TSI do Jetta Highline. Não. Explico porque: o Jetta Comfortline com o mesmo nível de equipamentos do C4 Exclusive sai por preço de tabela até superior ao Citroen topo de linha.

O Jetta TSI parte de um patamar de preço muito distante, já acima dos 90 mil reais, e equipado como o C4 Exclusive chega aos 105 – 110 mil reais facilmente. Portanto, a comparação correta é essa mesma, por maior discrepância que aja entre os motores.

Aqui a vitória do C4 é por nocaute, e no primeiro minuto do primeiro assalto. Como já disse, o conjunto mecânico do Jetta até garante um certo prazer na condução, mas você tem que estar esperando bem pouco dele para se contentar.

Não compromete no uso cotidiano, mas não te emociona hora nenhuma. Sente-se força até razoável em regimes de baixo giro, o motor até parece encher rapidamente, mas tudo fica mais no campo das percepções. No final, qualquer modelo compacto com motor 1.6 vai te deixar para trás em uma arrancada.

No C4 a história é outra. O motor THP já está pronto pra voar no ponto morto. Em qualquer regime de rotação ele está te entregando força diferenciada. Ele sempre te responde de imediato a qualquer cutucada no pedal da direita.

Uma apertadinha e lá vai ele cantando de leve os pneus dianteiros (com o ASR atuando) e engolindo o asfalto à frente. Compará-lo ao aspirado velho de guerra da VW é covardia. Aqui a derrota do Jetta é pior que os 7 x 1 imposto pela Alemanha ao Brasil na copa.

Aisin x Tiptronic

O casamento do novo câmbio de 6 marchas utilizado pela Citroen no C4 com o motor THP é muito feliz. A sensação de que a marcha correta sempre está engatada é quase regra, as trocas são muito sutis e suaves, é preciso estar olhando no indicador de marcha do painel para saber o que está acontecendo. Tudo funciona a contento.

O único “porém” fica por conta de que quando se pisa um pouco mais forte no pedal da direita, o câmbio demora para entender depois que você alivia o acelerador que já pode voltar para o funcionamento normal, baixando o giro.

Ele deixa o carro “nervoso” por um pouco mais de tempo que seria necessário.

No Jetta o câmbio TIPTRONIC é até valente, funciona com bom conforto, suas trocas, apesar de menos suaves que no C4, são também dotadas de conforto. Entretanto o seu casamento com o motor de 120 cv não é perfeito.

O câmbio troca demais as marchas em regime de trânsito urbano buscando arrancar alguma coisa do motor velho de guerra, num ritmo que chega a ser desagradável. A sensação que se tem é de que há muito câmbio para pouco motor, por mais estranho que isso pareça.

Na conta final, mais pelo entrosamento com o motor, o câmbio do Citroen leva o ponto.

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É nesse balanço que eu vou…

Na questão da direção e suspensão, temos aqui duas escolas diferentes em ação. O Jetta segue a velha receita de esportividade da VW, com suspensão firme sem ser muito desconfortável. Já o C4 vai mais na cara da Citroen, com conforto exemplar mas sem prejudicar muito o comportamento dinâmico.

No Jetta há o inconveniente dos ruídos de funcionamento que já citei quando falei da convivência com o carro. E não precisa de você rodar muito com ele para perceber os tais barulhos: quando tirei ele da concessionária estranhei antes do primeiro quilômetro rodado. Você logo se acostuma, mas que sempre recebe os “toc-tocs” com certa decepção, isso recebe.

Mas o carro se apresenta extremamente comunicativo com o motorista, sempre passando para o volante exatamente o que está acontecendo nas rodas. Seu comportamento tende mais para a esportividade que no Citroen.

O meu tinha suspensão traseira em eixo de torção, mas tínhamos um Highline aqui na firma com o qual tive ampla experiência e digo: a suspensão traseira Multilink não é notada em situações cotidianas.

E pior, não resolve os ruídos de funcionamento, que são o que realmente deixam a desejar na arquitetura da suspensão do Jetta como um todo.

Já no C4 o conforto é prioridade. O funcionamento da suspensão do francês parece mais “natural” que no Jetta. Não estão lá os ruídos que acompanham o VW em qualquer situação onde o terreno se apresente mais acidentado.

Tudo parece ter sido feito para garantir aos ocupantes maciez e ausência de ruídos. A contrapartida fica por conta de que o carro passa menos suas reações para o volante, o que muito se amplia devido à direção elétrica.

Assim, a tocada mais esportiva não encontra grande respaldo no projeto do sedã francês. A estabilidade é ótima, acho até que similar à do Jetta, mas a percepção é de que o VW leva vantagem no contorno das curvas. A carroceria parece rolar menos no VW.

No final das contas, a decisão pelo sistema de direção e suspensão mais adequado vai do que cada um espera do carro. É bom lembrar que estamos falando de um sedã médio, carro familiar por natureza e que combina melhor com uma proposta mais voltada ao conforto. Por este motivo, meu voto vai para o C4. Até porque eu ainda não digeri muito bem os ruídos da suspensão do Jetta.

Água que passarinho não bebe…

Na questão do consumo, vale um adendo: o meu C4 ainda encontra-se muito novo, e é natural que seu consumo vá se alterar significativamente para melhor ao longo dos seus primeiros milhares de quilômetros.

Mas, finalizada a média de seu primeiro tanque, já dá para termos algumas conclusões preliminares.

O Jetta fazia 8,0 km/l e 6,0 km/l em regime urbano intenso com gasolina e etanol, respectivamente. Em períodos de férias escolares, ou em épocas de clima mais ameno (ar desligado), acrescentava-se 0,5 km/l a estas médias. Em uso rodoviário, algo em torno de 12,20 km/l com gasolina e 9,20 km/l com etanol era o normal.

No C4 tive média de 7,0 km/l ao fim do primeiro tanque, o que por experiência com outros veículos zero km, permite vislumbrar que eu obtenha algo próximo aos 9 km/l após a estabilização do consumo. A conferir. Para este item fica impossível determinar um vencedor com os dados disponíveis.

Rigidez torcional e percepção de qualidade construtiva

Por fim, vou fazer uma breve explanação a respeito do sentimento a respeito do chassis e da qualidade construtiva visualizada. Quer se tornar íntimo de seu carro? Lave-o. Você vai apalpar todas as seções da lataria, verá de perto cada encaixe, vai ver soluções de engenharia utilizadas para fixação de peças.

Apesar do contato limitado com o C4 até agora, posso afirmar categoricamente: a rigidez torcional de seu chassis não se equipara à do Jetta. É normal você verificar quando ultrapassa obstáculos de forma enviesada a existência de alguns ruídos (discretos, mas típicos) de movimentação da estrutura, algo que nunca notei no VW.

E o Jetta faz isso com uma estrutura que possui mais de 100 kg a menos que o C4, algo que denota uma maior modernidade do chassis utilizado pelo alemão.

Outra questão que chama a atenção é a existência de pequenos estalinhos observados em peças do acabamento interno, em especial do painel do C4. O Jetta chegou aos 60 mil km sem que se firmasse qualquer ruído de forma perene em seu interior.

Outra questão que me chamou a atenção diz respeito aos para-choques do C4. Ao você tocar as abas inferiores das peças, tanto dianteira quanto traseira, ali junto das rodas, nota-se que elas se movimentam além do que eu consideraria razoável, e levam junto com elas todo o acabamento plástico de revestimento interno das caixas de roda.

Não sei, mas me passou uma certa preocupação com a durabilidade do conjunto com o passar dos anos. No Jetta tem-se uma impressão de solidez muito maior nesse ponto.

No que tange à montagem, os gaps de carroceria me parecem similares nos dois produtos. Não se nota rebarbas no interior ou variação nos vãos de carroceria no exterior que possam depor contra a excelência da fabricação dos modelos.

Alguns detalhes na entrega do C4 que depõem contra o controle de qualidade da Citroen:

– Tive que voltar à concessionária no dia seguinte da entrega para resolver um ruído forte de metais se encostando vindo debaixo do veículo. Tratava-se do contato de duas peças metálicas que fazem o isolamento térmico entre escapamento e assoalho, que estavam se encostando. Um pequeno deslocamento de uma das peças resolveu o problema;

– A moldura da maçaneta interna da porta dianteira direita veio solta. Eu mesmo a encaixei no lugar, mas a sensação de falta de cuidado na entrega ficou;

– No encosto do banco traseiro há duas peças isoladas pequenas junto às portas que são independentes do restante, mas também revestidas no mesmo material do estofamento. Do lado esquerdo esta peça veio com o revestimento em tecido, destoando de todo o interior do veículo.

Na entrega me informaram que a peça de reposição já havia sido solicitada e que me chamariam para trocá-la assim que a mesma chegasse. Estou no aguardo.

Bem, somando toda a descrição até aqui, coloco o VW Jetta à frente do C4 neste quesito. Só o tempo dirá como é que vai se comportar o francês com o passar dos anos. Vejamos como estará minha opinião daqui a 3 anos.

Na conclusão geral, acho que fica claro observando apenas os aspectos objetivos que, qualquer que seja o peso dos diversos itens analisados, o C4 sairia vencedor com folga em um comparativo.

Não é atoa que ele tem se destacado em sua versão Exclusive THP nas reportagens da mídia especializada. O modelo realmente tem fortes atributos para conquistar o cliente. Mas há alguns detalhes que possuem potencial para que ajam problemas ao longo da convivência com o francês, o que pode jogar por terra todos as boas qualidades do projeto. Vamos observar.

Grande abraço a todos.

Por Ubaldir Junior

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Autor: Eber do Carmo

Fundador do Notícias Automotivas, com atuação por três décadas no segmento automotivo, tem 18 anos de experiência como jornalista automotivo no Notícias Automotivas, desde que criou o site em 2005. Anteriormente trabalhou em empresas automotivas, nos segmentos de personalização e áudio.